Na história dos países que se desenvolveram de forma rápida e por esta razão a seu tempo foram considerados verdadeiros milagres, a educação foi definida como prioridade nacional tanto pelos respectivos governos quanto pelas famílias, enfim, pela sociedade em geral. Exemplos disso são os "Tigres" asiáticos, como Coréia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, Hong Kong, o Japão e, mais recentemente, a China. Durante várias décadas a educação e como decorrência o desenvolvimento da ciência e tecnologia e a pesquisa eram tratados como setores estratégicos e os gastos públicos refletem muito bem o que isto significava. Ao invés de pulverização dos recursos públicos e outras medidas de cunho assistencialista um pacto social foi firmado entre governo e sociedade no sentido de que grandes metas deveriam ser estabelecidas, a partir das quais um grande salto para o futuro estaria sendo dado. Isto se chama romper com os paradigmas em vigor que mantinham aqueles países em uma situação de atraso, miséria e subdesenvolvimento.
Ao invés de "dar o peixe" a decisão foi ajudar o povo e os países a "pescarem", a andarem com as suas próprias pernas. Todo o sacrifício que uma ou duas gerações fizeram foi com o objetivo de empurrar os países rumo a novos patamares de desenvolvimento, de bem-estar e qualidade de vida já naquela época ostentados pelos países desenvolvidos.
No caso do Brasil, o processo de desenvolvimento, de melhoria da qualidade de vida, de crescimento econômico com melhor distribuição de renda tem sido muito lento, comparado com as experiências dos países anteriormente mencionados.
Faltam ao Brasil um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento, a definição de uma grande estratégia rumo ao futuro, com prazos e metas definidos, onde a educação, a ciência e a tecnologia sejam de fato os motores de um futuro diferente, melhor, mais dinâmico. Parece que faltam as nossas elites governantes a capacidade de enxergar além das próximas eleições, que acontecem a cada dois anos. A visão de estadista é substituída por um paternalismo e assistencialismo demagógicos e de distribuição de migalhas, como forma de manter o povo encabrestado.
É neste contexto que os resultados do ENEM realizado em 2010 e recentemente divulgados pelo MEC/INEP devem ser analisados. Mesmo que o ENEM não possa ser utilizado como um instrumento eficiente para a avaliação da qualidade de nossa educação (ensino médio) serve como parâmetro para repensar a educação como um todo e deveria contribuir para a definição de políticas educacionais e de desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
É voz corrente entre pesquisadores, docentes e técnicos dessas áreas que o Brasil anda mal. A qualidade da educação é baixa e isto reflete também no desenvolvimento da ciência e da tecnologia. As diferenças de qualidade entre as escolas públicas e particulares no ensino fundamental e médio são gritantes ou até mesmo vergonhosas..
As classes médias e mais abastadas, inclusive os governantes, jamais colocam seus filhos em escolas públicas, razão maior, talvez, para o descaso como os governantes tratam a educação pública. Afinal esta é para os pobres, os excluídos e marginalizados, enquanto a educação particular prepara as futuras elites nacionais, em um sistema de reprodução não apenas biológico, mas muito mais sociais.
Para evitar a "rebelião das massas" os governantes criam vários subterfúgios, como as quotas para afro-descendentes, alunos de escolas do ensino médio público, para deficientes, bolsas para que os pobres possam ter acesso ao ensino superior privado, ajudando a salvar da falência inúmeros estabelecimentos privados de ensino e assim por diante.
A qualidade do ensino público no Brasil pode ser constatada não apenas pelo desempenho dos alunos em exames como ENEM, em vestibulares e outros mais, mas também no sucateamento das escolas publicas, inclusive das Universidades Federais e Institutos Federais de Tecnologia, na infra-estrutura horrível, nos baixos salários de professores, na falta de equipamentos, laboratórios e outros complementos para que a ação pedagógica possa ser realizada de forma efetiva .
Voltarei ao assunto oportunamente!
Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, Ex-Diretor da ADUFMAT, ex-Ouvidor Geral de Cuiabá, colaborador de Só Notícias
[email protected]