O jornal Folha do Estado, que circulou na última quarta-feira (27), destacou no caderno de política uma entrevista, no mínimo, curiosa. Nela, o presidente Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa de 2014 (Agecopa), Eder Moraes, numa tentativa de jogar com as palavras, revelou "a existência de pressão velada por parte de empresas fornecedoras de pneus, combustíveis e biodiesel, setores que supostamente estariam interessados em derrubar o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Segundo ele, estes mesmos setores estariam agindo para favorecer o projeto do Bus Rapid Transit (BRT). Como presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso, eu, Aldo Locatelli, sinto-me no dever de realizar firmes ponderações sobre estas falas (sem sentido) de Eder Moraes. Primeiro que, nem mesmo existe o projeto do VLT, enquanto que o BRT está projetado a pelo menos um ano.
O BRT praticamente foi deixado de lado após algumas lideranças políticas do Estado passarem a defender a implantação do VLT, como Silval, Eder e o presidente da Assembleia, deputado José Riva. Eles reforçaram a proposta após conhecerem, em comitiva órfã de técnicos, o modelo em funcionamento na Europa.
O presidente da Agecopa fala em pressão velada. Ora! Não será a decisão dessas lideranças uma opinião velada, já que ignora a opinião da população de Cuiabá e Várzea Grande. Isso sem falar nos altos valores a serem pagos. O VLT não sairá por menos de R$ 1,1 bilhão.
O valor do investimento em infraestrutura para um VLT flutua em torno de 30 a 50 US$ milhões por km. Para o BRT o valor é de 10 a 15 US$ milhões por km. Como os valores necessários para eventuais desapropriações são semelhantes, pode-se concluir que o BRT exige investimentos 3 vezes menores que os exigidos pelo VLT. Isto significa que, com o mesmo montante, pode-se construir 3 linhas de BRT para cada uma de VLT.
A moderna locomotiva não conseguirá sobrepor os declives característicos da Capital. A força dos trens não vencerá subidas superiores a 6%. Sendo assim, o VLT terá dificuldades para subir a Prainha.
A minha intenção não é defender nenhum nem outro sistema de transporte. Ambos são organizados e com certeza trarão vantagens para os passageiros do transporte público. Mas é preciso esclarecer o quanto "esse VLT", defendido principalmente por Eder Moraes, custará mais ao bolso dos contribuintes. Para a população ter uma ideia, destaco alguns números. A ferrovia que está chegando a Rondonópolis, vinda de Alta Taquari, terá um total de mais 196 quilômetros a um custo de R$ 694 milhões. Esse é o custo de uma ferrovia que tem pontes e suporta milhares de toneladas de cargas, ou seja, cada quilômetro de VLT custará 14 vezes mais que o quilômetro do trem próprio para transportes de cargas. O custo a mais por quilômetro pode alcançar R$ 44 milhões por quilômetro.
O tempo de implantação total do BRT é de dois anos, enquanto o VLT precisará de aproximadamente quatro anos para ficar totalmente pronto. A capacidade máxima de passageiros do VLT é de 25 mil pessoas/hora, enquanto o BRT suporta uma capacidade máxima de 48 mil passageiros/hora, devido à quantidade de veículos que poderão ser usados.
A partir de janeiro de 2012, os novos veículos obrigatoriamente deverão ser abastecidos com um diesel menos poluente (S50 e S10). Existe também a opção de utilizar ônibus híbridos (elétrico e combustão), que reduzem em 35% o consumo de combustível e emitem 10 vezes menos materiais particulados. Além disso, já existem Articulados e Biarticulados operando com 100% de biodiesel, com emissão zero de particulados, não gerando efeito estufa. O impacto ambiental é favorável hoje ao sistema sobre trilhos (VLT) quando com tração elétrica, tanto em termos de emissões quanto em ruído. Realmente ele é menos poluente.
Os componentes do BRT poderão ser produzidos no Brasil por várias marcas, gerando empregos aqui. Para o VLT quase tudo é importado, gerando riqueza fora do nosso País. E devido à necessidade de certa rotatividade de passageiros, o valor gasto com o VLT poderá gerar um déficit nos cofres públicos. Este déficit deve ser compensado com o aumento da arrecadação e da majoração de impostos. Isto deve ser esclarecido e a população deve cobrar que isso não ocorra.
É questionável também o tamanho do VLT em comparação com o BRT. Será a sua extensão suficiente? E porque a população de Várzea Grande praticamente não será contemplada com o sistema? Qual a vantagem de ter um VLT limitado? Será mesmo um transporte público?
O VLT não permitirá que seus "trilhos" sejam utilizados por veículos de serviços emergenciais como, por exemplo, as ambulâncias. O ideal seria termos os dois sistemas, mas, infelizmente, Mato Grosso ainda não dispõe de recursos financeiros para que esse sistema seja instalado sem sacrificar investimentos primordiais em setores como o da Saúde e Educação.
Agora, prezado leitor, estou certo que você já tem informações suficientes para chegar à sua própria conclusão. E também para avaliar a qualidade da decisão das autoridades da sua cidade. Gostaria que toda a sociedade se manifestasse. BRT ou VLT, qual é o melhor para você? Para melhor refletir, segue importantes números referentes ao VLT.
Demonstrativo de Custo do VLT e necessidade de passageiros
Custo do VLT estimado em 20 anos (sem desapropriação) R$ 1.100.000.000,00
Custo do VLTpor ano R$ 55.000.000,00
Custo do VLT por mês R$ 4.583.333,33
Qtde de passageiros necessários por mês/pass. a R$ 2,50 1.833.334
Custo dos JUROS por mês R$ 11.000.000,00
70 % do Faturamento para pagar Despesas, Impostos e etc… R$ 25.666.665,00
30 % do Faturamento para pagar Juros R$ 11.000.000,00
Faturamento mensal necessário para pagar juros e capital R$ 36.666.665,00
Qtde de passageiros necessários por mês/pass. a R$ 2,50 14.666.666
Passageiros por mês para pagar juros e capital/pass. a R$ 2,50 16.500.000
Passageiros estimado por mês (25 dias) 5.000.000
Faltam 11,5 milhões de passageiros por mês 11.500.000
Valor pago pelos contribuintes por mês pelo déficit de Passageiros R$ 28.750.000,00
Valor pago pelos contribuintes por ano pelo déficit de Passageiros R$ 345.000.000,00
Valor pago pelos contribuintes em 20 ano pelo déficit de Passageiros R$ 6.900.000.000,00
Aldo Locatelli – presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso.