Finda a Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos países do Eixo, os países europeus, incluindo a Inglaterra, a França e a Rússia – posteriormente União Soviética e outros mais, durante anos dedicaram um grande esforço nacional com o objetivo da reconstrução da infra-estrutura física totalmente destruída. Como "castigo" os Aliados impuseram aos vencidos algumas condições para evitar que os mesmos pudessem voltar a representar um perigo para o mundo. A Alemanha foi divida em duas partes, uma que passou a girar em torno da órbita ocidental, capitalista e democrática e a outra que passou a fazer parte do chamado Bloco Soviético, com a hegemonia russa e a subserviência dos outrora países independentes, mas sendo governados por títeres a serviço de Moscou, como era o mote durante todo o período da guerra-fria que durou até 1989.
O que a Alemanha nazista representou para os países e povos da Europa o Japão representou para os países asiáticos. Bem antes da segunda guerra o país do sol nascente, como sempre foi conhecido, o Japão, exercia uma política totalitária através da ocupação da Coréia e da China, principalmente. Tendo sido derrotado pelos EUA, sofrendo, inclusive com as duas únicas bombas nucleares já utilizadas em uma guerra, teve que se curvar a vontade do vitorioso. Assinou um armistício concordando em ter em seu território forcas de ocupação americanas, bases aeronavais e abdicar de ter forcas aramadas ofensivas. Na prática aceitou viver sob a tutela política, econômica e militar dos EUA.
Desta forma, os EUA foram o único país a sair da guerra sem praticamente nenhum grande dano material dentro de seu território. Seus danos foram em equipamentos e meios militares, facilitando assim, seu reposicionamento na ordem mundial do pós-guerra, inclusive no novo mapa do poder mundial, passando daí a ombrear-se e depois superar a União Soviética. O mundo entre o final da década de quarenta e o final dos anos oitenta viveu sob a divisão da guerra-fria: de um lado os EUA e seus aliados e de outro a União Soviética e seus aliados. Todas as regiões do planeta passaram a ser teatros de operação e zonas de guerra. Os conflitos regionais na América Latina, Ásia e África passaram a ter como pano de fundo uma guerra ideológica, onde os demais aspectos como a tecnologia, a economia, os esportes, as artes, a cultura, a religião, enfim, todas as dimensões da vida humana eram interpretadas segundo as duas ideologias em disputa: Capitalismo/democracia x socialismo/comunismo, este último considerado uma forma totalitária de governar em detrimento das liberdades individuais, tanto no campo econômico quanto no político.
Durante pouco mais de quatro décadas, todos os presidentes americanos apresentaram aos seus eleitores e a população em geral e ao resto do mundo, aliados e adversários ou inimigos, suas políticas e estratégias relacionadas com questões internacionais, principalmente as relativas às guerras e a paz. O primeiro teste da disputa pela hegemonia entre os dois blocos ocorreu na Guerra da Coréia, entre 1950 e 1953, com milhões de mortos, destruição da infra-estrutura do país e a divisão do mesmo em duas nações, uma vivendo sob a órbita soviética e depois chinesa e a parte do sul passando a orbita norte-americana, situação que permanece em impasse até a atualidade.
Assim também aconteceu durante o governo Kennedy quando Fidel Castro aceitou que a Rússia instalasse ogivas nucleares em Cuba, acabando tendo que retirar ante a posição firme do presidente americano e vendo que o risco de uma guerra nuclear era iminente e a história é pródiga em exemplos dessas escaramuças e embates ao longo de décadas.
Com o fim da guerra-fria os conflitos regionais passaram a ser palco das preocupações da única superpotência restante. A alternância de poder entre democratas e republicanos nos Estados Unidos não tem alterado de forma significativa o posicionamento dos EUA em relação aos conflitos localizados e algumas intervenções diretas, decididas de forma unilateral ou sob o manto de decisões da ONU, marcadamente de seu Conselho de Segurança. Independente de quem seja o Presidente ocupando a Casa Branca ou a composição do Congresso americano ou os detalhes que consolidam a política e estratégia internacionais, a doutrina é a mesma: como garantir a hegemonia dos EUA no balanço de poder mundial e manter seus interesses internos e externos.
Bush, tanto o pai quanto o filho, ficaram conhecidos pela guerra do Iraque e do Afeganistão. Obama, depois de conseguir eliminar Bin Laden, deseja passar a história como o campeão da paz, tanto entre países árabes e seus grupos dissidentes quanto em relação ao histórico e milenar conflito entre árabes (palestinos) e judeus. Mesmo tendo forte oposição dos grupos judaicos americanos e do próprio governo de Israel, Obama insiste em ser o arquiteto de uma paz negociada, garantindo a existência do Estado de Israel e abrindo caminho para a criação e instalação do Estado Palestino, sem a participação de grupos considerados terroristas. A grande guinada nesta "doutrina" é a questão da fronteira. Obama insiste em estabelecer o "status quo" antes da guerra de 1967 e seus opositores internos e Israel não aceitam devolver ou negociar territórios conquistados na guerra dos seis dias.
Aos poucos Obama tenta re-definir a grande estratégia americana de manutenção de suas esferas de poder e influencia ao redor do mundo. Muita coisa ainda vai acontecer e isto é fundamental para a sua reeleição no ano que vem. Ainda tem muita água para correr!
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias, no momento nos EUA
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