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Um reino muito, muito distante…

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Esta é uma história do sofrimento de um povo fictício, de um Reino muito, muito distante… Um povo que vivia em uma região de maravilhas, tudo que se plantava se colhia, existia exuberância de Fauna e Flora. As riquezas minerais brotavam do chão da região. Os rios eram encantadores e suas cachoeiras as mais bonitas de todos os Reinos ao redor. As matas eram frondosas e os caules das árvores eram calibrosos. O Mato era Grosso e os animais viviam em sintonia com o lugar. Este local só poderia se chamar Grosso Mato.  

Mas perante toda esta exuberância local o Povo vivia em condições de extrema necessidade, eram obrigados a trabalhar dia e noite para ter sua subsistência garantida. Além de sobreviver, este mesmo povo ainda tinha que pagar pesadas taxas de impostos a seus governantes.

O povo era humilhado, desmoralizado, culpado de todos os problemas do Reino.

Se as ruas estavam esburacadas, a culpa era do povo que enchia suas carroças mais do que a via permitia de peso, ou usavam demais a via para ir às “regiões das cachoeiras” que eram seu único lazer de final de semana gratuito. A culpa não era do calçamento fino, feito de materiais inadequados e má qualidade.

Se as crianças não aprendiam nada na Escola Pública, a culpa era dos pais que não estimulavam seus filhos a estudar. A culpa não era das péssimas condições das escolas, da falta de alimentação escolar de qualidade, da falta de professores bem remunerados e atualizados.

E se o “Hospitalzão do centro” ficava superlotado com pessoas espalhadas por todos os cantos, em cimas das pedras cobertas de arbustos, ou até jogados no chão onde acabavam morrendo sem atendimento, a culpa era do povo que não conseguia entender que eles deveriam procurar o postinho perto de casa antes de ir no “Hospitalzão”. A culpa não era a falta de estrutura dos postinhos que não tinham condições de atendimento, que não tinham ervas e que às vezes nem curandeiros para atendê-los. Procuravam o “Hospitalzão” como última saída, pois todos sabiam que de lá muitos só saíam mortos. Ir ao Hospitalzão era como uma sentença de Morte, e o Povo sabia disso. Mas não tinham escolha.

Os Governantes sempre diziam que esta história de mortes no Hospitalzão eram mitos. Que o Hospitalzão fora todo revitalizado, a maior revitalização de toda a sua história, tinha se gastados milhões de coroas. Que aquele lugar era uma maravilha de Deus!  Quem poderia contrapor tão veemente afirmação.

Mas mesmo diante de toda esta humilhação, o Povo continuava trabalhando, sofridamente trabalhavam e trabalhavam, pagavam seus impostos, colaboravam com a sua parte para que um dia o reino Prosperasse e melhorassem de vida. Mas este dia nunca chegava…

De quatro em quatro anos, havia a escolha de novos Governantes e seus ajudantes. Os candidatos ao posto sempre vinha com promessas que enchiam os corações do Povo de Esperança. A auto-estima do Povo ficava a mil, pois ele poderia escolher quem quisesse para ajudá-lo a progredir. A festa era geral, a gastança também. Só não sabia o povo que tudo aquilo estava sendo paga pelos seus impostos. Mas o povo acreditava piamente nos candidatos. A mudança viria em breve, pois pior não poderia ficar.

Mas não melhorava… os Governantes eram trocados e a situação ficava a mesma. Na verdade piorava a cada dia, mas os Governantes sabiam esconder a verdade. Faziam discursos bonitos, maquiavam a situação, e enganavam o povo. Especialidade deles!

Até que chegou um dia que a situação fugiu do controle dos Governantes, o Povo descobriu toda a verdade sobre as vias públicas, sobre as escolas de seus filhos e principalmente sobre o funcionamento do “Hospitalzão”.

O Hospitalzão que passara pela maior revitalização de toda sua história, estava aos pedaços… O povo ficou boquiaberto, a notícia era uma Bomba! Em pouco tempo os Reinos vizinhos propagandearam a notícia aos quatro cantos da Terra. Não Houve vivente que não soubesse do Caos do Hospitalzão.  Mas os Governantes só se preocupavam em não manchar a Imagem do reino do Grosso Mato. Isso era uma irresponsabilidade, mostrar a situação do reino assim sem avisá-los. Eles iriam perder Prestígio frente aos Reinos vizinhos. Que coisa mais terrível!

Ninguém da parte dos Governantes veio defender seu povo que estava morrendo, até parecia que aquelas mortes eram normais. Morrer no Hospitalzão não comovia mais os Governantes. O povo podia morrer a vontade, pois o que mais interessava era preservar o prestígio do Reino, o Povo que não valia nada podia continuar morrendo. Sempre tinha morrido mesmo!

Mas eis que num repente meteórico o Governador Geral do Grosso Mato decidiu intervir. Sentado confortavelmente em seu Palácio, nem se deu ao esforço de ir lá conferir a situação do Hospitalzão (isso comprova que ele já sabia da situação, ir lá para que?), chamou seus ajudantes, chamou seus conselheiros, chamou os “homens da verdade” que faziam as Leis, chamou os fiscalizadores das Leis… (Esqueceu de chamar os trabalhadores do Hospitalzão e principalmente os representantes do Povo).

Colocou-os todos em uma de suas salas nababescas de seu Palácio, e sob sucos refrescantes e ventilação de última geração começaram a discutir saídas para a crise. O povo continuava morrendo no calor do chão do Hospitalzão. Depois de algumas horas de discussão chegaram a um veredicto. Um veredicto que mais continuava ser uma sentença de morte para o povo, pois a “solução encontrada” não resolveria em nada a crise.

Mas mesmo assim chamou os “fofoqueiros de plantão” (jornalistas atuais? Acho que eram, pois o que importa é o “marketing da informação”). Assim anunciou que daquele dia em diante o Hospitalzão seria administrado pelo Reino Mor. Mas com uma condição, de que quem administraria o Hospitalzão seria outra Entidade, de um outro Reino.  Como assim? – disseram os fofoqueiros atônitos. O Reino Mor iria passar o Hospitalzão para uma outra Entidade que nem conheciam direito e o Povo continuaria sofrendo no chão do Hospitalzão? O Governador Geral logo respondeu:  – Não, não, esta Entidade é de excelente qualidade, só tem uma dezena de processos no outro Reino, mas nada que desabone sua “idoneidade” e “responsabilidade”. O povo do Grosso Mato vai estar muito bem assistido por ela.

Mas, espertamente, o Governador Geral do Grosso Mato logo a seguir saiu de cena, e nomeou o seu Capataz Saúde para conduzir o processo de transição. O Capataz Saúde também tinha lá seus probleminhas de legislação em andamento, mas nada ainda tinha se provado, tudo estava em investigação que perduraria milênios se preciso fosse. Ainda era considerado “pergaminho limpo”.

Os Trabalhadores do Hospitalzão ficaram assustados, pois o Povo continuaria morrendo do mesmo jeito e agora os próprios trabalhadores corriam o risco de perder seus empregos e também morreriam em casa, de fome.

O desespero foi geral, ninguém conseguia entender nada da situação. As fofocas eram desencontradas, uns diziam uma coisa, outros diziam outra coisa. O Capataz Saúde, quando questionado, dizia que o modelo seria organizado pela Entidade “pau-rodada”… Mas não explicava nada.

Os trabalhadores programaram uma paralisação geral dos atendimentos. Exigiam que fosse construído outro Hospitalzão Maior, com mais pedras cobertas por arbustos, que dessem um mínimo de conforto aos doentes. Com este Hospitalzão Maior, aí sim poderiam tirar os enfermos do chão onde estavam morrendo sem nenhuma dignidade.

O Governador Geral do Grosso Mato desapareceu… Sumiu… não falou mais nada… Calou-se.

E agora?

– Será que o Governador vai aparecer a tempo de evitar uma catástrofe maior?

– Será que o Governador Geral vai descer de seu “Trono” e receber os trabalhadores para conversar?

– Será que o Governador Geral vai se dar ao “Trabalho” de sair de seu confortável Palácio nababesco para ir  visitar o Hospitalzão, para ver como seu povo está morrendo?

Estas perguntas só poderão ser respondidas nos próximos dias…

Continua…

PS.: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera coincidência.

Edinaldo Lemos é Presidente do Sindicato dos Médicos de MT

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