Os Estados Unidos são um país guerreiro, formado por guerreiros e guerreiras. Ao longo de sua história a guerra tem feito parte do dia-a-dia desta nação que sempre soube lutar para conquistar e manter seus objetivos interna e externamente. Desde a guerra civil até a atualidade várias foram as guerras em que os EUA participaram, a grande maioria das quais acabaram vencedores. Em decorrência, suas forças armadas gozam de prestigio junto à população e aos governantes. Estima-se que direta ou indiretamente em torno de 20% da população estejam vinculadas as forcas armadas, como integrantes das mesmas, tanto na ativa quanto na reserva ou na qualidade de veteranos/as de guerra, trabalhando em indústrias que fabricam algum tipo de material militar ou a alguma empresa que fornece bens e serviços as forcas armadas, tanto no país quanto no exterior.
O orçamento da defesa nos EUA passou de 291 bilhões de dólares em 2001, pouco antes dos ataques terroristas que destruíram as torres gêmeas em New York e parte das instalações do Pentágono, em Washington, D.C., quando os gastos militares representavam 15% do orçamento daquele ano, para mais do que o dobro em 2011 quando chegam a 700 bilhões de dólares ou 20% do orçamento do governo federal. Em 2007, o orçamento de defesa dos EUA era de 329 bilhões de dólares, maior do que a soma dos orçamentos das nove maiores e mais poderosas forças arnadas do mundo ( Rússia, China, França, Inglaterra, Coréias do Norte e do Sul, Índia, Paquistão e Israel) que eram de 262,4 bilhões Atualmente a situação é praticamente a mesma.
Ao longo desses últimos 22 anos tenho passado talvez em torno de dois terços deste tempo aqui nos EUA e isto tem permitido que eu possa observar mais de perto o cotidiano da vida americana. No final da década de oitenta e início da década de noventa, na qualidade de integrante da Delegação Brasileira na Junta Inter-Americana de Defesa e no Inter-American Defense College, aqui em Washington, D.C. tive a oportunidade de conviver mais de perto com o meio militar. Durante dois anos, tanto como aluno e depois como professor daquele estabelecimento militar visitei várias instalações militares em vários estados, inclusive o centro de treinamento do "Navy Seals", nas proximidades de San Diego, na Califórnia. Tudo tem dimensões grandiosas e são planejadas para garantirem a segurança e a defesa do país.
Durante este período ocorreram três fatos importantes na vida política e militar americana: a invasão do Panamá e a prisão do então presidente daquele país acusado de fazer parte de uma enorme rede de narcotraficantes (Noriega acabou sendo preso e condenado a prisão perpétua e cumpre pena na Florida), a queda do Muro de Berlim e o fim da era da guerra-fria e a primeira guerra do Golfo, quando era presidente George Bush, pai.
Também estava aqui quando ocorreram os atentados de 11 de setembro. Lembro-me perfeitamente como foi. Aquele foi um ato espetacular por parte da rede Al Qaeda, sob o comando do desde então lendário Osama Bin Laden, atingindo o coração financeiro e militar dos EUA. Graças a esses atentados e outros que antecederam ou se seguiram ao redor do mundo, tendo como alvos interesses americanos ou de seus aliados, o então presidente Bush que estava mal perante a opinião publica no início de seu primeiro mandato, conseguiu aglutinar o sentimento de patriotismo e de nacionalismo que tomou conta da população e acabou não apenas melhorando seu prestígio momentâneo, mas também reeleger-se para um segundo mandato. Dizem que Bin Laden acabou sendo seu maior cabo eleitoral.
Durante praticamente dez anos, o terrorismo e a Al Qaeda, juntamente com os talibãs passaram a ser os ícones da política externa Americana, com reflexos imediatos na política interna. Quando de sua eleição o Presidente Obama estabeleceu como prioridade máxima desarticular e destruir a rede Al Qaeda e capturar, vivo ou morto, seu líder maior. O número de soldados americanos no Afeganistão passou de 48 mil em 2008 para 100 mil em 2011.
A operação que acabou realizando esta façanha, passou a ser um fato simbólico de extrema importância na história política e militar americana e, ao mesmo tempo, a demonstração da vontade, determinação de um país e um governo em atingir seus objetivos, utilizando todos os meios, principalmente científicos e tecnológicos que estão a disposição das forcas armadas.
As comemorações espontâneas que aconteceram em plena madrugada entre o último domingo quando do anúncio da morte de Bin Laden feita por Obama e seguidas durante a semana, principalmente em New York , Washington, D.C. e outras cidades demonstram que esta ação do Governo americano teve o sabor de uma vitória nacional. Obama também está colhendo os louros desta vitória contra o terrorismo, seu prestígio junto à opinião publica subiu 11 pontos percentuais, passando de 47% para 57% e representa um combustível em sua caminhada rumo a reeleição.
Por todas essas razões, com toda a certeza o combate ao terrorismo deverá continuar no centro dos debates públicos e eleitorais pelos próximos meses, ao lado da questão das guerras no Afeganistão, no Iraque e outras regiões. A questão econômica que continua sendo o "calcanhar de Aquiles" dos EUA na atualidade perde um pouco de importância em meio a esta grande euforia nacional.
O recado que este fato passa aos que imaginam que através de atos terroristas ou ameaças irão destruir esta superpotência é que a defesa da soberania, do território, da população e dos interesses nacionais deste país representa a razão de seu progresso, do bem-estar de seu povo e da forma de agir de seus governantes através de políticas públicas custeadas com o dinheiro do contribuinte.
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia, ex-Diretor da ADUFMAT, ex-Ouvidor Geral de Cuiaba, colaborador de Só Notícias (no momento nos EUA). [email protected]