Se emagrecer já é difícil, imagine começar um tratamento sem o apoio de medicamentos. É esta possibilidade que está mobilizando discussões; o assunto é polêmico e gera divergências mesmo entre profissionais da saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou mês passado audiência pública para um debate onde propôs a proibição da comercialização de conhecidos medicamentos para emagrecer. As substâncias em questão são a Sibutramina, Amfepramona, Femproporex e Mazindol.
A Anvisa alegou que o uso de tais substâncias é prejudicial à saúde e que os riscos superam seus benefícios. A Sibutramina representa um dos mais populares medicamentos usados para emagrecer e está na mira da Anvisa há algum tempo. Em 2010 a agência intensificou o controle de sua comercialização baseada em um estudo que envolveu vários países, inclusive o Brasil. O estudo concluiu que o medicamento aumenta em 16% o risco do usuário em desenvolver doença cardiovascular como infarto, hipertensão e derrame.
Toda esta polêmica vem à tona quando o Brasil e o mundo enfrentam uma verdadeira epidemia de obesidade. Segundo o IBGE (2009) o excesso de peso já atinge metade da população adulta; uma em cada três crianças (de 5 a 9 anos) e um quinto dos adolescentes no País. Tais estatísticas são sombrias e a perspectiva em relação à qualidade de vida destas pessoas também, haja vista a obesidade traz consigo uma série de outros problemas graves como hipertensão arterial e diabetes. Além do impacto na saúde a obesidade também afeta a economia, pois gera incapacitações temporárias e permanentes no trabalho e acarreta maior sobrecarga em nosso já tão congestionado Sistema de Saúde.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a obesidade é uma doença e para tal existe todo um protocolo de tratamento que inclui além de mudanças nos hábitos alimentares e a prática constante de atividade física o uso de medicamentos supressores do apetite. É consenso entre médicos endocrinologistas que tais medicamentos possuem reações adversas, assim como qualquer outro medicamento como os usados no tratamento do diabetes ou da hipertensão, por exemplo, e que seu uso deve ser restrito aos casos de obesidade após criteriosa avaliação dos riscos potenciais ao paciente.
No entanto a discussão é extremamente válida e oportuna, pois abre espaço para outros problemas como as inúmeras formulações milagrosas que surgem no mercado prometendo eliminar o excesso de peso sem grandes esforços, o que é algo irreal. Muitas vezes estas fórmulas mágicas além de não proporcionarem nenhum resultado ainda podem comprometer a saúde.
A obesidade e o sobrepeso, já é sabido, se combatem primordialmente com uma mudança definitiva no estilo de vida que se reflete em uma alimentação saudável e equilibrada e a prática regular de atividade física. Isto contraria o imediatismo e o comodismo das pessoas que querem resultados rápidos e fáceis; levaram anos acumulando peso e agora querem perdê-los o mais rápido possível sem muito esforço. Infelizmente isto não é possível e não oferece um emagrecimento seguro e saudável. Nos casos mais resistentes os medicamentos agem apenas como um auxiliar temporário na perda de peso, desde que seu uso não acarrete risco à saúde, o que, porém só pode ser avaliado por um especialista.
Vanina Tavares é farmacêutica e bioquímica – crf:1972 e docente do Curso d Enfermagem da Faculdade de Sorriso – FAIS