Nada como ter vivido na Cidade Verde dos anos 60 e 70 e viver na Cuiabá de hoje. São duas cidades distintas: a primeira, mesmo que diminuta e reduzida a funções administrativas, era o sinônimo da elegância e da gentileza. Éramos insuperáveis no bem recepcionar. Claro que, pela pequenez, todos nos conhecíamos. Ou pelo Cine Tropical, ou pela Praça Alencastro, ou pelo Dutrinha ou pela Matriz ou (o que é mais provável) por tudo isso junto. A segunda, imensa, quase cosmopolita, é um complexo socioeconômico mais dinâmico do estado.
Agrega valores e culturas tão ricamente díspares que beira à incompreensão. Em sua magnitude, traz consigo diversos extremos, tanto sociais, como estruturais. Dentre eles o trânsito; ou melhor, o não-trânsito. Explicar o porquê do caos que assola as ruas e avenidas de Cuiabá não é nenhum mistério. Décadas e décadas sem um plano diretor, cidade quase tricentenária, não planejada e, portanto, ruas estreitas, somam-se a isso um transporte coletivo precário (aliás, só anda de ônibus quem dele necessita), um crescimento vertiginoso no número de veículos, sinalização insuficiente ou inexistente. O que existe é ineficiente por causa de tecnologia ultrapassada e a inexistência de política pública de educação para o trânsito, um dos fatores mais importantes. Todas essas constatações estão no limiar do óbvio; porém, necessárias para ilustramos nossa triste realidade.
Historicamente, uma coisa foi e é inevitável: o processo de rápida urbanização da sociedade brasileira, por várias razões, provocou, e provoca o "inchaço" das cidades pólos e das capitais, inclusive em Cuiabá. Então, diante de um fenômeno incontrolável, é preciso pensar em meios e modos para conviver com o fato, preservando um mínimo de qualidade de vida. Ou seja, é necessário ampliar as estruturas públicas e privadas para se dar vazão ao incontido número de veículos circulando nas vias urbanas cuiabanas (ou melhor no Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea).
Há soluções, algumas delas de sabor amargo; outras, nem tanto. O importante é que elas existem e nós, agentes sociais temos que discuti-las e, posteriormente, implementá-las sob pena da cidade literalmente parar. Alguns podem dizer que as intervenções que acontecerão para a Copa do Mundo resolverão o problema. Não creio nisso, penso que podem minimizá-lo; todavia, não serão três ou quatro túneis e elevados a salvação do trânsito cuiabano. O problema é ainda mais crônico. É preciso pensar a cidade como um todo e para os próximos cinquenta anos.
A avenida Professora Édna Affi (mais conhecida como av. das Torres), da gestão do ex-prefeito Wilson Santos, melhorou significativamente o trânsito na região sul da cidade, mas infelizmente a nova Perimetral (Rodoanel) não foi concluída. Ela seria responsável pelo desvio do tráfego de veículos pesados de parte do perímetro urbano, além de redesenhar os limites da cidade. Como se pode perceber, algumas medidas foram tomadas, inclusive a duplicação da rodovia Emanuel Pinheiro (estrada da Chapada do Guimarães) por parte do Governo do Estado, claro que todas aquém do necessário. Mas se fez alguma coisa, mesmo que sem a comunicação ideal entre Município e Estado.
O rodízio entrou em debate como uma solução nos últimos dias. Particularmente, acredito que o sistema ainda não tem aplicação em Cuiabá, não é para tanto, mas também não é nenhum delírio pensar e discutir. O momento do nosso trânsito fomenta essa busca por caminhos, é natural.
Mas voltemos às eventuais soluções: 1- regulamentar e fiscalizar o transporte alternativo exigindo qualidade e conforto para os usuários. 2- modernizar o controle de tráfego com tecnologia de ponta, como sinais sincronizados e câmeras de monitoramento nos principais corredores de escoamento. 3- fazer campanhas educativas, isso é fundamental, mesmo que mais trabalhosas dão mais resultados que a indústria das multas. 6-criar corredores expressos, alguns já previstos para 2014. 7- multar intensamente os que fecham cruzamentos param em filas duplas etc.
Estamos em uma encruzilhada: ou a faixa cidadã ou a barbárie; ou a educação no trânsito ou o caos. Há bastantes problemas e só não nos é permitida a omissão. Assim como parlamentar, como cidadão e, acima de tudo, como cuiabano é que trago o problema, apresento eventuais soluções e convido aos que sonham com sinais verdes a se engajarem nessa luta por um trânsito mais humano.
Guilherme Maluf é médico e deputado estadual pelo PSDB.