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De pais para pais

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Dirijo este artigo a outros pais que, como minha mulher Carmem e eu, passamos pela experiência de ter um filho morto prematuramente. Hoje completa seis anos que Marcelo morreu num acidente de moto em Salvador (BA), aos 29 anos. A sua ausência tem sido um exercício diário de superação que aos poucos com o passar do tempo vimos se criar uma leve cortina entre nós e a sua ausência. Nestes anos vivenciamos muitos sentimentos até chegarmos hoje a um confortável amadurecimento. A saudade insiste em permanecer, mas muito menos dura do que antes.

Desde que Marcelo partiu, temos nos preocupado com pais que passaram, que passam e, certamente, passarão pela mesma experiência difícil. Por isso este artigo é dirigido a pais como nós. Nos primeiros tempos é insuportável o sentimento da perda definitiva. Depois vai amansando e a vida consegue caminhar. Nesse período tenho acompanhado outros pais vivendo perdas de filhos.

Algumas coisas aprendemos até agora. Primeiro, a gente sobrevive. Segundo, as boas lembranças ajudam a consolar. Terceiro, é preciso dedicação muito grande aos demais filhos porque eles se colocam num plano de menor importância dentro da família e se comparam com o filho que partiu. A perda é de toda a família e não apenas dos pais.

Carmem e eu freqüentamos um grupo de pais que se reúnem na última quinta-feira de cada mês na casa dos amigos Zé Carlos Branco e Nara Nardez, como nós, órfãos do filho Marco. Éramos uns poucos no começo, e hoje já passamos de 70 pais. Vejo que a cada semana, mais e mais jovens partem, na maioria das mortes, por acidentes. Os pais chegam ao grupo perplexos e muito sofridos. Aos poucos vão se recuperando e ganhando vida. Mas a cada reunião são novos pais e avós chorosos que lutam pra lidar com as perdas.

Passados esses seis anos sabemos que a morte é mesmo inevitável e não há como evitá-la. Portanto, não há porque os pais se sentirem culpados por não terem impedido que os filhos saíssem de casa naquela noite, não fossem àquela festa, ou lhes negassem a chave do carro. Estamos convencidos de que quando a hora chega, a hora é aquela. Não é justo que os pais morram junto. Somos espíritos unidos por laços ancestrais que não dominamos. Os laços se fazem no nascimento e se desfazem fisicamente na morte. Não pode ser diferente. Marcelo partiu mas nos deixou Daniela, e Luka, que na época tinha três anos. É uma inestimável herança. Junto com as boas lembranças, todos nos juntamos mais e fortalecemos a família, formada por mais três irmãos, por quatro noras, cinco netos e o Mateus, o bisneto do apressado neto Miguel e de Mariana, que chegará em abril do ano que vem.

Marcelo deve gostar disso tudo e certamente sorri conosco quando sorrimos. Lamentar aqui não é bom. Faz com que ele chore lá. Chorar pode. O que não pode é cultivar sentimentos pesados que o magoem lá onde está num novo processo de começar a viver.

Onofre Ribeiro é jornalista e Secretário Adjunto de Jornalismo na Secom-MDirijo este artigo a outros pais que, como minha mulher Carmem e eu, passamos pela experiência de ter um filho morto prematuramente. Hoje completa seis anos que Marcelo morreu num acidente de moto em Salvador (BA), aos 29 anos. A sua ausência tem sido um exercício diário de superação que aos poucos com o passar do tempo vimos se criar uma leve cortina entre nós e a sua ausência. Nestes anos vivenciamos muitos sentimentos até chegarmos hoje a um confortável amadurecimento. A saudade insiste em permanecer, mas muito menos dura do que antes.

Desde que Marcelo partiu, temos nos preocupado com pais que passaram, que passam e, certamente, passarão pela mesma experiência difícil. Por isso este artigo é dirigido a pais como nós. Nos primeiros tempos é insuportável o sentimento da perda definitiva. Depois vai amansando e a vida consegue caminhar. Nesse período tenho acompanhado outros pais vivendo perdas de filhos.

Algumas coisas aprendemos até agora. Primeiro, a gente sobrevive. Segundo, as boas lembranças ajudam a consolar. Terceiro, é preciso dedicação muito grande aos demais filhos porque eles se colocam num plano de menor importância dentro da família e se comparam com o filho que partiu. A perda é de toda a família e não apenas dos pais.

Carmem e eu freqüentamos um grupo de pais que se reúnem na última quinta-feira de cada mês na casa dos amigos Zé Carlos Branco e Nara Nardez, como nós, órfãos do filho Marco. Éramos uns poucos no começo, e hoje já passamos de 70 pais. Vejo que a cada semana, mais e mais jovens partem, na maioria das mortes, por acidentes. Os pais chegam ao grupo perplexos e muito sofridos. Aos poucos vão se recuperando e ganhando vida. Mas a cada reunião são novos pais e avós chorosos que lutam pra lidar com as perdas.

Passados esses seis anos sabemos que a morte é mesmo inevitável e não há como evitá-la. Portanto, não há porque os pais se sentirem culpados por não terem impedido que os filhos saíssem de casa naquela noite, não fossem àquela festa, ou lhes negassem a chave do carro. Estamos convencidos de que quando a hora chega, a hora é aquela. Não é justo que os pais morram junto. Somos espíritos unidos por laços ancestrais que não dominamos. Os laços se fazem no nascimento e se desfazem fisicamente na morte. Não pode ser diferente. Marcelo partiu mas nos deixou Daniela, e Luka, que na época tinha três anos. É uma inestimável herança. Junto com as boas lembranças, todos nos juntamos mais e fortalecemos a família, formada por mais três irmãos, por quatro noras, cinco netos e o Mateus, o bisneto do apressado neto Miguel e de Mariana, que chegará em abril do ano que vem.

Marcelo deve gostar disso tudo e certamente sorri conosco quando sorrimos. Lamentar aqui não é bom. Faz com que ele chore lá. Chorar pode. O que não pode é cultivar sentimentos pesados que o magoem lá onde está num novo processo de começar a viver.

Onofre Ribeiro é jornalista e Secretário Adjunto de Jornalismo na Secom-MT

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