Quase duas semanas depois, os rumores já arrefecendo, a cidade parece estar satisfeita com as eleições.
Inequívoco sinal de nossa crescente importância política no estado foi o fato de que tivemos candidatos em todos os níveis, excetuado, obviamente o presidente. Considerando que Silval também é de casa, nascido politicamente ali em Matupá, concorremos em todos os níveis. Silval é mais um fenômeno político de nosso tempo. Tal e qual Blairo, e tantos outros (Dorner, Dilceu, Fiuza) é mais um "estrangeiro" tomando conta do Mato Grosso. Deixe explicar rapidamente a incômoda palavra, "estrangeiro".
Quando fui político, (lá pelos meados do século passado) ouvia falar em "estrangeiros" entre os acolitados da política cuiabana. Ouvi muitas vezes, sobre o medo de se eleger governador que não fosse matogrossense. Para eles o opróbrio seria ainda maior do que o impingido por José Frageli, um não cuiabano eleito governador na década de 70, antes da explosão migratória no Mato Grosso. Os comentários eram geralmente em tom de brincadeira, bem ao gosto da boa cuiabanidade, mas recônditas vibrações de voz revelavam medo real. Pois vejam, se é que existe mesmo essa pendenga, já estamos no terceiro mandato derrotando os autóctones, arrefecendo a xenofobia.
Estamos mesmo deixando de ser um estado tipicamente amazônico: uma capital e um imenso e rarefeito sertão.
Sinop pode ter votado bem desta vez. Baiano e Dilmar abocanharam metade dos votos da cidade. O eleitorado pode ter ouvido os apelos televisivos de Dr. Claudio Alves Pereira. A votação pode ter pretendido consolidar lideranças. As luzes do proscénio parecem querer revelar Dilceu. Este elegeu o irmão de "pala erguida" com dizem os gaúchos, e pesou na balança dos governadores. Wilson teve 16% no estado, mas em Sinop foi levantado para 22%. Silval não fechou, pois aqui Dilceu, o jovem e humilde pioneiro comeu votos dele e do Mauro.
Esse fato o consolida. Pode-se agora falar politicamente em família Dal Bosco, fornecedora de filhos como respeitáveis homens públicos, alimentando nossas sempre renováveis esperanças de turvar a negritude da pocilga que é a política brasileira. Falando de pessoa respeitável e merecedora, este artigo não pode deixar de falar de Dorner. Se tem alguém nesta cidade, que merece indiscutivelmente o maior respeito, não só pela história de sua família em Sinop, mas também sua história pessoal, é Roberto Dorner. E foi realmente uma pena ele não ter sido eleito.
Os comentários na cidade parecem querer dizer que as pessoas estão com medo de queimar Dorner, que é expectativa de um grande político para Sinop. Isso aconteceu com outro excelente nome, que era uma real esperança para a política sinopense, mas sua carreira decrescente, de sucessivas derrotas, acabou. É muito difícil um cidadão respeitável, empresário bem sucedido, deixar o conforto de sua vida vencedora e honesta para trilhar o caminho lamacento da política. A minoria pensante do eleitorado agradece e abençoa, unge de todos os mais preciosos augúrios a carreira dessas aves raras que aparecem na política. Portanto, Dorner não pode perder a próxima, senão será outro Fiuza que lamentaremos.
Só uma "palhinha" final, sobre eleições presidenciais. Vocês já fizeram as contas? Contados entre nulos, brancos, votantes da Marina e de todos os outros, são quase 50 milhões de pessoas que não votaram nem em Serra nem na marionete do lula. Analisando esses e outros números, comentaristas independentes estão dizendo que o segundo turno zéra tudo, e será uma história diferente.
"Será".
Emerson Ribeiro é cardiologista em Sinop