Um ataque eleitoral feito por um candidado a senado contra outro trouxe à sociedade mato-grossense o historicamente censurado debate sobre o aborto. Esse assunto ainda mora no subsolo social, lá onde se escondem as nossas hipocrisias.
O ataque abriu a temporada de baixarias nessa campanha eleitoral, que, a exemplo de outras, segue maquiada por propagandas nas quais predominam, no discurso, intenções celestiais, inclusive daqueles que já tiveram a chance de governar e não fizeram nada do que falam.
Diante do ataque, vieram, súbitas, a público defesas de ambos os candidatos e pelo sim ou pelo não ao aborto. Opiniões de articulistas homens. (Pelo menos as que vi!)
Mas, para além do jogo eleitoral, mais duro à medida que as urnas se aproximam, o que é preciso dizer agora, além do que já foi dito até o momento, é: as mulheres não podem deixar que os homens dominem esse debate, nem agora, nem nunca! Precisamos entrar nessa conversa, se formos chamadas ou não, para influir na correlação de forças em torno desse assunto extremamente complexo, que interessa a todos e todas e muito mais àquelas que carregam no ventre a tão alardeada vida humana, que agora, neste momento fatídico, alguns defendem com os dentes e a todos interessa.
Quanto aos homens, basta dar uma girada nas periferias para verificar que, a medida que a barriga cresce, é bastante comum o pai sumir no mapa. Na periferia e em qualquer canto. Aliás, pai na periferia é um luxo.
Mas enfim…
Aborto é um desse debates jamais feitos no Brasil. Faltou coragem. Ponto. Ele só veio à tona agora por conta de intenções eleitorais. Tudo que nós temos acumulado para tratar disso são moralismos e fundamentalismos. Portanto, é prematuro demais dizer sim ou não para a prática que sempre aconteceu e vai continuar acontecendo.
Roubar holofotes eleitorais para aprofundar o debate sobre o aborto, neste momento, é difícil. Esse assunto já sumiu da pauta, já está sumindo…E vai voltar para o mesmo lugar de onde veio (o escuro), assim que não interessar mais ao jogo político.
Porém, a luta pelas questões de gênero continua. Antes de dizer sim ou não ao aborto, é preciso dialogar com as mulheres organizadas em coletivos por todo o Brasil, elas sim estão tratando disso há anos! Vamos ouvir mais, refletir mais, para que o país tome uma decisão consciente e responsável.
Que tal falarmos mais sobre isso? Em qualquer ocasião.
Keka Werneck é mãe e jornalista em Cuiabá