Amigo meu, da minha infância, inspirou-me o título desse artigo, ou dessa crônica, já que escrever em cima da observação tornou-se meu vício quase que diário. Doutor Valfrido, já falecido, foi um ilustre advogado da cidade dos meus primeiros dezesseis anos. Detalhe: ele era homossexual. Coisa horrível para a sociedade daquela época e daquela cidadezinha pacata do norte paranaense e que assim deve permanecer até os dias de hoje, uma cidadezinha com pensamentos totalmente conservadores e que por isso nunca cresceu, mesmo porque, como dizem por lá, toda vez que nasce uma criança, foge um adulto.
Mas, por outro lado, coisa também comum nos dias de hoje, o doutor Valfrido era o líder, o astro, o maioral, para toda a pacata cidadezinha quando, na qualidade de zagueiro do São José Esporte Clube, brilhava no campo, em fenomenais defesas e, desse-lhe oportunidades, até fazia gols. Golaços. O doutor Valfrido, para o qual pagamos aluguel por um bom tempo, chegava em nossa casa (propriedade sua) e nos comprava alface, almeirão, cebolinha e outras hortaliças. Sua opção sexual não me impede de dizer que foi uma das pessoas mais íntegras que conheci.
Doutor Valfrido não era polílico. Se fosse, teria sido um político meritocrático. Beto Richa, em Curitiba, e Aécio Neves, em Minas Gerais, ambos do PSDB, se reelegeram, prefeito e governador, pelas suas administrações meritocráticas.
Oposição ao presidente Lula, Aécio Neves costuma chamar o governo do PT de messiânico. Discordo. Também Lula se reelegeu e possivelmente eleja Dilma Rousseff pela prática da meritocracia.
Mas, deixarei esse tema de lado, mesmo porque meritocracia e messianismo deverão me render um outro artigo e, também porque, estou certo que, a maioria dos políticos, desse nosso nortão mato-grossense, desconhece essas palavras. Quanto à hipotética eleição de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto (como presidente, porque como ministra da Casa Civil, ela já despacha daquele edifício há algum tempo); se isso acontecer (parafraseando o próprio presidente), vai ser um fato inédito na história desse País: uma mesma agremiação partidária elegendo o seu presidente por três vezes.
A alegação (hoje) de tucanos, e outros, é que um partido não pode ficar por mais de dois mandatos no governo. "O correto seria a troca", alegou-me, dia desses, um amigo de imprensa. "Como nos Estados Unidos, onde democratas e republicanos alternam o poder", acrescentou. Esse meu amigo é flamenguista. Tenho certeza que ele, assim como nós corinthianos, não pensa assim quando se trata de campeonatos, campeonatos e campeonatos.
E tem mais, cidade aqui do nortão, vereador usou a tribuna para esbaldar o seu "conhecimento" político. Stop para a frase: "Democracia sem oposição é ditadura!". Aterrorizei-me. Bertolt Brecht, o autor de "Terror e Miséria no Terceiro Reich", e do tão conhecido texto sobre o analfabeto político, foi também o autor da frase "Quem não conhece a verdade não passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso!". Aí sim, eu concordo. Mas dizer que democracia sem oposição é ditadura é o mesmo que dizer que ditadura com oposição é democracia (tive que rir). Essa tem que ir para o Guinness World Records 2010.
E enquanto tem gente empurrando ladeira acima eu volto em breve e com um artigo porreta: vou falar de um cidadão, empreiteiro, que pega obras do Estado e costuma empurrar com a barriga. <www.carlosalbertodelima.blogspot.com>, esse é o meu blog. Visite. FIM.
Carlos Alberto de Lima é jornalista em Alta Floresta