Assistimos incrédulos ao desenrolar da reunião da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio-Ambiente – COP 15, realizada em Copenhagen em dezembro de 2009. Incrédulos e frustrados, porque os resultados foram pífios. A degradação da humanidade; a irresponsável e nefasta intervenção do homem no espaço em que vivemos não permite a tibieza de nossas ações.
Estudos de instituições sérias e isentas ideologicamente, têm produzido relatórios alarmistas sobre a predação do meio ambiente, e apontado para um horizonte limite de cinquenta anos para a eclosão de grandes desastres ambientais, os quais colocarão em risco a própria sobrevivência da raça humana. O aquecimento global e suas consequências apocalípticas não é mais algo remoto, ou mesmo uma hipótese futurista, muito pelo contrário, está no espaço de vida de nossos filhos e netos.
O COP-15 repetiu Kyoto: muita conversa e pouca ação. O fato é que todos os países reconhecem a necessidade de uma maior conservação ambiental, mas não querem arcar com o ônus das medidas necessárias para o alcance do resultado. No fundo querem consertar a casa do vizinho, mas não a sua.
Além do mais, a solidariedade entre as nações, tanto quanto a dos homens, manifesta-se quase sempre, somente em situações de graves comoções sociais, tendo ou não origem na natureza. Passada a crise mais latente, vai cada qual cuidar do seu terreiro, até que outro fenômeno lhe desperte novamente os sentimentos solidários. Nada é permanente, a não ser a busca incessante por ganhos econômicos, que no fundo é a alavanca que move o mundo.
O ônus das ações necessárias para conter a degradação ambiental é alto, quando visto exclusivamente sob a ótica da racionalidade econômica. E quaisquer medidas a serem tomadas pelos governantes, que redundem em perda de emprego ou competitividade, são socialmente antipáticas e trazem, como consequência, perda de apoio eleitoral.
O desenvolvimento sustentável de um país se baseia em três pilares: competitividade, qualidade de vida e conservação ambiental. O ideal seria que o país conseguisse trabalhar nos três vetores de forma articulada e com o mínimo de perda para cada uma delas, de per si. Se o país atentar apenas para os quesitos qualidade de vida e competitividade, desprezando a conservação ambiental, o resultado será maior eficiência econômica, mas com degradação ambiental. Se trabalhar apenas com os olhos voltados para a conservação ambiental e a competitividade, desprezando a qualidade de vida, o resultado será o alcance de uma maior riqueza econômica, mas com maior pobreza e desigualdade social. Se por último, trabalhar apenas nas perspectivas conservação ambiental e qualidade de vida, desprezando a competitividade, o resultado será a perda de eficiência econômica.
A questão ambiental é complexa porque se traduz no confronto do futuro com o presente. O passivo ambiental será um problema para o futuro, mas a perda da eficiência econômica é um problema do presente. A decisão é política e a sociedade tem que decidir quanto de ônus está disposta a assumir no presente para garantir o futuro. Sabe-se que os nossos governantes (não só os brasileiros, diga-se) têm os olhos, quase sempre, voltados apenas para as próximas eleições e nunca para as próximas gerações, daí que quaisquer decisões que redundem em perda de apoio popular não são bem aceitas e, consequentemente, postergadas.
Resta saber até quando as providências poderão ser empurradas para o futuro. A biosfera está dando sinais claros de exaustão. O homem, dentre todos os seres vivos, é o único que dispõe de conhecimento científico para entender os perigos e se contrapor a eles, se quisermos continuar aqui por mais tempo.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso.