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Acompanho com interesse particular as reflexões do ainda procurador da República José Pedro Taques sobre ser ou não ser candidato a senador no ano que vem, e, em sendo, por qual partido. Meu interesse é diverso. O primeiro aspecto é a admiração pessoal que por ele nutro, e imagino que esse sentimento é compartilhado por muita gente, em especial quem teve a oportunidade de acompanhar a sagacidade, tenacidade e combatividade do Pedro Taques quando de sua atuação na Procuradoria da República em Mato Grosso. O outro é pela promessa de sangue novo na nossa velha política, que, a bem da verdade, passa por muitas transformações profundas nos últimos anos, em especial desde a eleição de Blairo Maggi em 2002, o que, de resto e sucintamente, representa a substituição da antiga familiocracia – ou oligarquia pantaneira -, pela oligarquia agrária moderna.

Do ponto de vista profissional, Pedro Taques considera que já virou uma espécie de bananeira velha, que não dá mais cacho no Ministério Público Federal, cuja carreira é dificílima e muito competitiva. Ele já estaria no topo da carreira, sem muito mais o que almejar. Isso, de fato, causa uma certa frustração pessoal, pois o ser humano precisa sempre de novas metas para manter-se entusiasmo com seus afazeres. Senão se perpetua na zona de conforto e dali nunca mais sai.

Já entre os pesos políticos que Pedro Taques está colocando na balança de ser ou não ser candidato, está o fato de que, segundo os critérios que se auto-impôs, o partido ao qual filiar-se-ia não poderia ter nódoas de fundo ético, tampouco membros importantes com ficha suja.

Por um processo histórico, em função de práticas pouco republicanas, a baixa escolarização da sociedade e sua crescente despolitização, a política brasileira virou sinônimo de corrupção, imoralidade e negócios escusos. Não escapa a este preconceito os políticos em geral e também os partidos. Logo, desejar entrar na política sem sujar as mãos só usando luvas ou uma máscara de ingenuidade profunda. Não que todos os políticos e a política sejam de fato sujos, nojentos e corruptos. Mas, infelizmente, pelos motivos expostos acima, são percebidos pela média da opinião pública como tal.

Se levar mesmo a sério o critério de só se filiar a um partido que não tenha manchas, Pedro Taques terá que fundar um novo partido, e escolher seus membros num convento. Se buscar filiados em qualquer outro lugar, poderá ser surpreendido, no meio da campanha, com revelações nada pudicas a respeito da honorabilidade de um ou outro correligionário.

E isso se deve a algumas razões bastante conhecidas. A primeira delas é aquele ditado segundo o qual "se o adversário não tiver defeito, alguém o inventará". A outra, e mais importante, é que os partidos, como aparelhos ideológicos de Estado e como estratos da sociedade, vão sempre representar as virtudes e os vícios do meio aos quais pertencem. Simples assim.

Agora, sendo verdade o que a imprensa vem especulando nos últimos dias – sem nenhuma negativa ou esclarecimento em contrário do José Pedro Taques até o momento – ele se preocupou tanto com a ficha corrida dos partidos que teria se esquecido de olhar seus programas e estatutos, ou seja, deixou de verificar o aspecto mais importante, que é apenas o político. Simples assim.

Estou me referindo à possibilidade de Pedro Taques se filiar ao PSDB ou a algum partido que com ele venha a se coligar nas eleições deste ano. Sinceramente, de todas as contradições que Pedro Taques poderia incorrer, essa seria a mais paradoxal, haja vista que, segundo ele próprio declarou à época, o esquema Arcanjo, que deu-lhe notoriedade de xerifão, era sustentado por um braço político poderoso. E, para quem não se lembra, a prisão de Arcanjo foi decretada no final do governo do PSDB. Espero que Pedro Taques possa vir a público negar esse namoro com os tucanos. Caso contrário, teremos apenas mais do mesmo na disputa ao senado no ano que vem.

Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso.

 

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