Tenho escrito alguns artigos neste espaço a respeito dos jovens de agora e a vida que levam no mundo de agora. Eles vivem uma enorme contradição que não foram eles que criaram e nem serão eles que a resolverão. São vítimas.
Recentemente, um jovem saiu escondido com o carro da mãe, bate num poste em alta velocidade e morre, em Cuiabá. Isso detona a família. Fica a sensação de culpa na família, e nos país, então, é mortal!. Há dois meses um grupo de três rapazes menores de 23 anos faziam "racha" na avenida Fernando Correa da Costa, à noite, bateram entre si e atropelaram um grupo de pessoas que saíra de uma igreja próxima e estava no ponto de ônibus. Uma das mulheres teve as pernas amputadsa no atropelamento e outras cinco pessoas ficaram muito feridas. Dias depois, a reação do rapaz comentando entre amigos foi esta: "pô, cara, foi massa. A mulher tava lá no chão e a perna dela ali perto. Sangue pra todo lado, massa!"
Exemplos semelhantes mostram uma coisa só: despreparo para a vida. A maioria quase absoluta dos jovens de ambos os sexos, desconhecem valores mínimos de solidariedade, de vida em sociedade, do valor da educação, da família, dos bens públicos, da vida das outras pessoas, da própria e não trazem noção do futuro. Pesquisa recente do jornal "Folha de S.Paulo" entre jovens que estudam nas melhores universidades de São Paulo, revelou que eles vivem cada dia como se fosse o último.
As fugas da realidade eles fazem através das baladas, das drogas, do álcool,do sexo, da comunicação em rede via internet, celulares e grupos. Existe um perigoso caos instalado no meio da sociedade e não se percebe ou não e mede a sua extensão. A maioria dos crimes de assalto, de drogas, sexuais e latrocínios é praticada por jovens com menos de 25 anos. É o que revela o noticiário policial. Há um vácuo de jovens masculinos entre os 15 e os 24 anos, mortos prematuramente.
Bom. Dito isto, vem agora uma provocação: o Estado, seja o federal, estaduais ou municipais conseguirão resolver o caos? A resposta é não. O Estado gasta mal, não tem gestão próxima do cotidiano por conta das estruturas grandes e caras. Está passando da hora da sociedade se mexer. As empresas estão gastando bilhões em programas de responsabilidade social com a questão ambiental, treinamento de funcionários, etc. Mas não se dedicaram com a sua enorme capacidade de gestão a programas de educação e resgate moral e social dos jovens em risco. Esperam do Estado, porque pagam impostos. Será uma espera inútil porque neste momento a questão tem que ser tratada dentro da própria sociedade, criadora e vítima desse caos.
Instituições como universidades, organizações não-governamentais, associações de bairros, clubes de serviço como Rotary, Lions, instituições religiosas, filosóficas e espiritualistas como a Maçonaria, clubes de outras naturezas, poderiam criar redes sociais de salvação da juventude e de endereçamento dela na direção do seu futuro.
Parece-me que a sociedade precisará se envolver nessa questão do resgate e encaminhamento dos jovens, sob pena de nos tornarmos um Haiti social. Nos bairros periféricos esse caos é pra lá de dramático. Sugeriria que os mais incrédulos conversassem com professores de escolas dos bairros. Vai se assustar com o modo de vida de uma sociedade paralela com valores e regras próprias. Na verdade, em todos os níveis sociais o caos na juventude é haitiano…!
Onofre Ribeiro
jornalista em Mato Grosso e
secretário-adjunto de Comunicação do Estado