Outro dia me dei conta que todas as minhas referências bibliográficas sobre o marketing político tinham apenas homens como autores. Comecei a observar ao meu redor e – realmente – é um universo masculino e, como em outras áreas, eles não querem saber de dar muito espaço. Lembrei-me de uma vez que um grupo de marqueteiros de Brasília me isolou das conversas sobre o tema e espontaneamente um deles sugeriu: “Por que você não vai ali atualizar o site?”. Dos males o menor. Antes da revolução feminina iriam me mandar pegar um cafezinho ou fazer o almoço.
A verdade é que a política por si é um universo de homens. Vejo algumas referências de lideranças como a agora vereadora Heloísa Helena e a ministra Dilma Rousseff e o comportamento feminista descaracterizando o feminino. Sabe-se que nos bastidores ambas são conhecidas por serem “sargentos” em seus staffs. Cabe, a nós mulheres, a tarefa de assessoria de imprensa, como um braço do marketing e ponto final. Mas, o dia a dia vai muito além disso. Seria uma mera questão de nomenclaturas? Como no caso das aeromoças e dos comissários de bordo?
Estamos passando por um momento de transição no que se refere ao lugar da mulher nesse universo machista, capitalista e globalizado. Ocupamos nossas cadeiras nas universidades, espaços no mercado de trabalho, mas não dividimos de forma igualitária a tarefa de ser mãe ou dona de casa. E recebemos salários 30% menores. Ainda não colhemos os melhores frutos das americanas que queimaram sutiãs em praça pública. Da pílula anticoncepcional para cá, só vimos a desconstrução da família.
Dos 30% de vagas reservados para as mulheres, dentro dos partidos políticos, não chega a 10% de preenchimento. Queria saber esse percentual no marketing político. Precisamos de mais candidatas para as políticas públicas femininas. Precisamos de mais marqueteiras ou marquetólogas. Precisamos discutir mais a gravidez precoce ou o aborto. Precisamos de mais campanhas sobre o assunto.
Esses números são a demonstração de que a mulher ainda não absorveu a ideia de ocupação deste espaço, assim como a sociedade. Em que momento estamos?
Talvez a política fosse mais doce com as marqueteiras. A velha guarda do marketing não cansa de repetir que política é guerra e é daí que surgem os ataques morais nas campanhas, os carros apedrejados, os militantes perseguidos ou os debates de baixo nível. (Não estou generalizando).
Mas, política também é emoção, é pele, é o sorriso e a sedução. E disso, nós entendemos bem. Somos poderosas consumidoras desse produto e por que não temos vozes mais ativas na linha de produção? Também temos a ferramenta do boca a boca e estamos lá, na linha de frente, quando o assunto é educação, saúde ou qualidade de vida para nossas famílias.
Então, achem marqueteiras para nossas candidatas ou vamos girar 360º graus e acabar no mesmo mundo machista.
Thaís Raeli, jornalista e militante do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Mato Grosso (Sindsep-MT)