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Desrespeito às leis de trânsito: um inimigo mortal

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Atravessar ruas e avenidas pela faixa, observar placas de preferencial, parar ao sinal vermelho, dar prioridade ao pedestre, trafegar dentro da faixa de rolamento e sinalizar ao mudar de faixa, não exceder o limite de velocidade estipulado para a via, usar cinto, não falar ao celular e dirigir. Cumprir regras básicas de segurança no trânsito. No Brasil o que deveria ser uma regra, há muito virou exceção.

Atravessar ruas e avenidas, mesmo que na faixa, pode se tornar uma perigosa aventura. É que, parte dos motoristas simplesmente despreza a sinalização cometendo infrações graves. É comum, por exemplo, ver gente trafegando em velocidade duas vezes maior do que a permitida, avançando o sinal vermelho, ultrapassando pela direita, percorrendo ruas pela contramão e várias outras imprudências. Enquanto em países avançados o motorista infrator é censurado por outros cidadãos, na terra do berço esplêndido há inversão de valores. Quem respeita a lei é que pode contar com a reprovação ostensiva dos demais motoristas. Se sujeito reduzir a velocidade onde deve, ou se parar antes de uma faixa de pedestres, por exemplo, ouvirá buzinas e insultos.

Aliás, buzinar parece ser o hábito preferido de muitos motoristas em Cuiabá. Chega a ser irritante. É comum estar parado em sinal vermelho e ter motorista buzinando atrás, assim que a luz verde acende. Pra que tanta pressa? Dados estatísticos comprovam que não se ganha mais que três minutos no trânsito, cometendo barbaridades. Isso quando a apressadinho não morre (ou mata) antes de chegar ao destino. Fala-se muito em direito de ir e vir, mas a sociedade que não é capaz de respeitar suas próprias leis de trânsito não chega ser uma sociedade livre e pensante. Não é por acaso que nos países onde se preza a liberdade responsável também se respeita as leis de trânsito e as demais.

No Brasil ainda vale a "lei de Gerson", que é refletida em números alarmantes. Em Mato Grosso o índice de mortes no trânsito é 32 para cada 100 mil habitantes. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). No estado de São Paulo, com frota de quase 20 milhões, o índice é 17. É Muita diferença! Mas quais seriam, então, as medidas para vencermos este inimigo declarado que mata 37 mil pessoas por ano e deixa inválidas outras 200 mil? Uma certeza é que não se pode mais depender apenas de agentes de trânsito e de PMs para fiscalizar o trânsito, em cidades como Cuiabá, onde o tráfego é "pesado" e a engenharia antiga e falha. Radares e câmeras de vigilância podem ser importantes aliados nessa tarefa e já deveriam fazer parte do dia-dia do trânsito.

Aliados ao primeiro fator há outros três determinantes: educação básica de qualidade, leis severas e punição. Não adianta termos escolas públicas de ponta, quando se trata de formação superior, se na base esta mesma qualidade não for observada. Não adianta termos um Código de Trânsito moderno, se tivermos uma constituição baseada em sonhos de liberdade, mas com leis inócuas e ainda um Código Penal capenga cheio de brechas para deixar bandidos impunes.

André Michells é jornalista, assessor de imprensa do Detran-MT e apresentador de TV

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