Os meios de comunicação começam a dar destaque às articulações e conversações das lideranças políticas com vistas à sucessão do Governador Blairo Maggi (PR). De fato as discussões tomaram grandes dimensões desde a reunião que o Deputado Percival Muniz (PPS) manteve com o Governador. O deputado propôs ao Governador o desencadeamento de um processo de avaliação sobre o desenvolvimento do projeto Mato Grosso Mais Forte, urdido em 2002, que elegeu Blairo e que lhe permitiu a reeleição em 2006. A idéia é que sejam avaliadas as realizações do governo, verificado o que foi efetivado e o que não foi e porque, para, a partir disto, redefinir os marcos referenciais de um grande projeto econômico, social e ambiental para esta nova fase do desenvolvimento de Mato Grosso.
O processo eleitoral ocorre, ou começa a ser trabalhado, sob novos elementos de uma realidade nova, que nos desafia compreende-la para além dos referenciais que nos trouxe até aqui – seja política, econômica ou administrativamente. O que se observa no cenário estadual é que não há uma disputa entre grupos antagônicos como ocorria em pleitos anteriores. Não há projetos antagônicos em relação ao desenvolvimento do estado, as diferenças são nulas do ponto de vista ideológico. De fato, houve uma horizontalização no processo político mato-grossense.
É um desafio intelectual compreender esse momento da historia mato-grossense. Do ponto de vista econômico temos uma classe social de ricos que se diferencia muito dos ricos do passado. É uma gente que esta conectada aos mercados mundiais, produzem sob os marcos de novas e extraordinárias tecnologias e sabem do seu peso na balança comercial brasileira. Por outro lado, a classe média, que até o governo Julio Campos (DEM) se restringia quase que aos servidores públicos mais graduados, hoje está constituída, em grande parte, por pessoas ligadas à iniciativa privada e que não deve favores aos políticos; aliás, via de regra, lhes dispensam um preconceito que precisa ser superado na perspectiva da afirmação da boa política, da democracia e da cidadania.
Penso que a questão central do processo político-eleitoral que se deslinda agora deveria ser o desenho de futuro que o mundo político, especialmente as lideranças com capacidade para liderar um novo governo, esboçará para a análise da nova cidadania mato-grossense. A economia do estado se divide entre duas realidades muito diferentes: de um lado o estado vive a pujança do chamado "agronegócio", que transige dos processos primários para a fase do processamento de matérias-primas, onde se concentra grande parte dos melhores empregos e as maiores fortunas do estado; do outro lado, outros setores, como a "agricultura familiar", que não experimentam os mesmos índices de produção, modernização e produtividade.
A Administração Pública, que melhorou muito nos últimos tempos, ainda não conseguiu definir e efetivar seu papel como indutora e organizadora de processos produtivos capazes de tirar centenas de milhares de pessoas que vivem a margem da moderna economia estadual, amargando vergonhosos índices de pobreza econômica e marginalidade social, educacional e cultural. O Governo não pode mais se comprazer em apenas liberar recursos públicos para comunidades pobres. É necessário que esses recursos (Pronaf, Fat, FCO, etc.) financiem a emancipação dessas comunidades a partir do desenvolvimento de projetos com viabilidade econômica e sustentabilidade ambiental; o que exige, além de equipamentos, conhecimento/informação e tecnologias que a Unemat, Empaer, UFMT, Fundação Mato Grosso e outros dominam e/ou podem desenvolver para essa finalidade.
Do mesmo modo o Parlamento Estadual precisa ser compreendido como sujeito importante na definição do desenvolvimento do estado. As discussões sobre o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico, que está sendo realizado pela Assembléia Legislativa em todas as regiões do estado com uma excelente participação da sociedade, é um bom exemplo de como o Poder Legislativo deve se esforçar para ser. Grandes temas como a questão ambiental, a qualidade da educação, a qualidade dos serviços de saúde publica, o desenvolvimento de comunidades tradicionais e assentados, a segurança pública, etc. precisam merecer uma discussão mais ampla e profunda da sociedade como um todo.
O modelo de Poder Legislativo fechado no Plenário de Decisões está superado, não atende mais os interesses e necessidades da nova cidadania. Mais que em qualquer outro tempo, o Deputado, assim como o Governador, são vistos pela sociedade como servidores, como empregados do povo e não seus tutores. A sociedade não os teme mais. Os tempos são outros e outros são os desafios. Não tenho dúvida que o "voto destituinte" está no horizonte próximo do arcabouço jurídico-político brasileiro, é o caminho natural de uma sociedade que se moderniza e se fortalece econômica e culturalmente. Um sinal disso são os murais de notícias, ou blogs, onde os "políticos" são cobrados duramente por homens e mulheres que, anonimamente, expressam todas as suas insatisfações, frustrações e desejos em relação aos poderes públicos. O Parlamento precisa dar vazão a essas manifestações no sentido de canalizá-las na perspectiva do fortalecimento da democracia e redefinição da própria Administração Pública.
Prof. Elismar Bezerra Arruda
Dirigente Estadual do PPS