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Pergunta que não cala

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No intenso diálogo que tenho mantido sobre política com atores de diversos segmentos e orientações, 10 entre 10 pessoas me perguntam como será o fim do governo de Blairo Maggi. A maioria faz uma pergunta retórica. E depois respondem elas mesmas: acham que será um fim melancólico.

Ao me perguntarem, querem, na verdade, um espelho para refletir suas próprias idéias, confirmadas pelo meu parecer. Mais ou menos como a gente faz ao tirar a dúvida sobre nossas próprias opiniões com a tv ou com o jornal do dia seguinte.

Tenho frustrado muitos dos meus interlocutores. Não esposo a tese de que o governo Maggi está fadado a terminar agonizante, ou que já tenha terminado, como dizem outros menos neutros.

O que move a política é a expectativa de poder. Geralmente, quando um governo entra na reta final, sua curva descende exatamente porque seu poder está se esgotando. Exceto quando se consegue criar novas expectativas de manutenção do poder. Quando isso acontece, a curva volta a se estabilizar, e logo ascende novamente.

Todos os governos, na prática, buscam essa sobrevida. Com o advento da reeleição, desde 1998, essas possibilidades ficaram mais concretas. Dante de Oliveira conseguiu criar uma expectativa de prolongamento de poder com a candidatura de Roberto França para a sua sucessão. O plano frustrou-se devido aos problemas partidários, que levaram à imposição de Antero Paes de Barros no lugar antes reservado ao então prefeito da capital.

Com o governo Blairo não seria diferente. Se o governo de Dante representou uma revolução do ponto de vista da reforma do Estado e adoção da gestão planejada, o governo do Blairo superou o anterior no quesito eficácia. Blairo, com seu estilo técnico de gerentão, multiplicou as obras públicas, sobretudo na área de habitação e asfalto. Por sobrepor a técnica à política, vive problemas de capilaridade partidária. Isso o levou a tentar, em vão, a construção de um nome que pudesse ampliar a sua expectativa de poder, com Antonio Pagot.

Eis, contudo, que surge, de onde ele certamente menos esperava, a sua tábua de salvação para driblar a agonia de final de mandato e criar a sua expectativa de poder. É isso que Silval Barbosa representa hoje para o governo Blairo Maggi: a sua possibilidade de recriar expectativa de poder ao final do mandato.

O primeiro fenômeno que Silval tem provocado é a unidade interna do governo. A maioria absoluta dos atuais secretários de Estado hoje o tem como um líder natural, capaz de suceder Blairo Maggi. Com isso, evita-se o fator evacuação do navio, um dos mais aterradores nos finais de mandato, anulando o fogo amigo.

Para fora do governo, a candidatura Silval emite um sinal oficial de que as coisas vão tão bem que, afinal, o governo será capaz de apresentar um candidato competitivo para a sua sucessão. Isso desestimula rebeliões e reduz a força do fogo inimigo.

Falta combinar com o povo, diriam os mais descrentes. Eu diria que faltava combinar com o povo e com o PMDB, partido do vice-governador. Quanto ao povo, essa combinação ainda há tempo para acontecer. Quanto ao PMDB, me parece que ela já aconteceu. Basta lembrar o que disse na última segunda (23.03) o presidente estadual do partido, deputado Carlos Bezerra, durante conclave peemedebista, depois que os representantes do prefeito Zé do Pátio deram uma espinafrada no governo e no Silval.

Disse Bezerra, textualmente: “O Zé tem que parar com essa birra. Ele não é mais deputado, e sim prefeito da terceira maior cidade de Mato Grosso. E não vale dizer que o Silval não o apoiou. O Silval não foi para campanha de Rondonópolis a pedido do próprio Zé, que se colocou como candidato de oposição ao governo. Aliás, nem eu o Zé quis no seu palanque. Aceitamos para não sermos acusados de atrapalhar. Mas, agora acabou a campanha, e é hora de trabalhar” (sic). Ou seja, a expectativa de poder é tão contumaz que já sensibilizou até o PMDB.

Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso

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