A recente consulta popular, que deu ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela, o direito de concorrer sucessivamente à reeleição, é um acinte à democracia. Embora esse direito de perpetuar-se no poder seja obtido pela via do voto, contraria todos os princípios da liberdade e da oportunidade a todos os segmentos. Leva o caricato chefe de Estado a pensar – talvez ter a certeza – que está acima do bem e do mal. O que Chávez está conseguindo é mergulhar a Venezuela numa crise de difícil solução, na medida em que não aumenta o bolo da economia mas, mesmo assim, distribui benesses sociais ao povo. O que ocorrerá quando o governo não tiver lastro suficiente para continuar dando essa esmola? Certamente haverá a explosão social.
E o pior é que, além de eternizar-se no poder, o aprendiz de caudilho ainda se atreve a “comandar” a tal da “Revolução Bolivariana”. Sonha – como já fez Fidel Castro há quase 50 anos – exportar o seu duvidoso modelo para os demais países do continente, e já conta com adeptos como o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa e a leniência de Lula, às suas estripulias, mesmo quando elas arrepiam os interesses brasileiros. Também há, a esclarecer, a sua ajuda financeira ilegal à eleição da atual presidente da Argentina.
O que Chávez faz em nada se parece com o feito de Simon Bolívar, dois séculos atrás. Naquela oportunidade, o libertador somou forças com outros descontentes e acabou com o domínio espanhol. Fez isso política e militarmente, o que é impossível hoje, quando há disponibilidade de comunicação e alta tecnologia. Ademais, atualmente não existe um dominador (embora Chávez o veja nos EUA). Nem o próprio mandatário venezuelano tem o perfil de Bolívar, que teve oportunidade de educação esmerada e, antes de subir ao poder, viajou o mundo de então e, mesmo assim, morreu aos 47 anos. Chávez já está com 55 e não passa de bufão, batedor de carteiras da democracia.
Todo vez que o governante – seja ele quem for – age concretamente para permanecer indefinidamente no poder, é a demonstração de que não merece ocupar o cargo pois quer, com ele, subjugar o país. A interesseira reeleição para cargos executivos, estabelecida no Brasil durante o governo FHC, já trouxe prejuízos incalculáveis à política e à administração pública brasileira. Os governantes fazem de tudo para não entregar o poder ao final do mandato. E seus seguidores, especialmente aqueles que mamam nas tetas do governo, articulam terceiro mandato e outras indecências continuístas.
Todo povo tem direito à autodeterminação. Espera-se que os países do continente estejam alerta para evitar a intromissão de Chávez em seus assuntos internos. Já basta o que fez Fidel Castro nos últimos 50 anos. Agora que o barbudo e seu regime estão moribundos, não podemos ceder espaço para que novos malucos venham a perturbar a ordem regional…
Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da PM e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
[email protected]