PUBLICIDADE

Blairo Maggi e Zé do Pátio

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Conscientes de que o resultado das urnas é inquestionável, alguns republicanos já deram demonstração pública de que a eleição do deputado estadual José Carlos do Pátio (PMDB), como prefeito de Rondonópolis, tem de ser aceita como uma decisão da maioria dos moradores dessa cidade. Quando nada, demonstram que sabem conviver com a democracia.

Um dos principais líderes do PR, o deputado federal Wellington Fagundes, por exemplo, acenou recentemente para a conciliação, na medida em que defendeu um entendimento entre o prefeito eleito e o Governo do Estado. E, na condição de integrante da bancada mato-grossense no Congresso Nacional, ele próprio se colocou à disposição do futuro prefeito para “ajudar a cidade”.

O gesto conciliador de Fagundes difere muito do comportamento adotado pelo cacique do PR, o governador Blairo Maggi, que, conforme demonstrou em seguidas entrevistas, insiste em permanecer no palanque, conduzindo uma disputa essencialmente político-partidária para o terreno pessoal. Na verdade, o líder republicano, no decorrer da recente disputa eleitoral em Rondonópolis, abdicou da condição de magistrado e assumiu publicamente a função de cabo eleitoral do aliado – o (ainda) prefeito Adilton Sachetti -, não medindo as conseqüências do ato.

Decepcionado com o fracasso do afilhado – e, ainda mais, magoado por ter sido derrotado por um adversário que nunca se agachou perante o Palácio Paiaguás -, o governador, lamentavelmente, sinaliza que a tendência é de que a máquina pública estadual seja utilizada, doravante, para satisfazer os caprichos políticos e/ou pessoais de um privilegiado grupo de republicanos, em detrimento dos interesses coletivos do terceiro maior pólo de desenvolvimento de Mato Grosso. Cidade, por sinal, onde o próprio chefe do Executivo reside e onde se concentram os seus milionários negócios particulares. Quando nada, isso cheira (ou fede) a discriminação.

Com efeito, o próprio Maggi já sinalizou que vai tratar o prefeito eleito de Rondonópolis como um inimigo, no sentido literal do termo. Em recente entrevista, ele foi claro ao afirmar que simplesmente não pretende manter relações políticas com Zé do Pátio. “O Zé não tem preparo para ser prefeito de Rondonópolis”, disse. E foi mais longe: “Eu não pretendo ter qualquer relação política com o Zé Carlos. Eu farei oposição a ele”.

A Família Maggi, pelo que se nota, está unida na oposição ferrenha a Zé do Pátio. Depois do governador, foi a vez da secretária de Emprego, Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Terezinha Maggi, disparar contra o prefeito eleito. “Ele [Zé do Pátio] é muito doido, é um cara desequilibrado”, afirmou, numa entrevista que fez o maior sucesso entre os jornalistas de aluguel, que sempre se animam com os rompantes da Turma da Botina. Numa de suas investidas contra Zé do Pátio, a primeira-dama do Estado ainda acusou o prefeito eleito de comandar “ações corruptas” para vencer a eleição.

A mágoa dos republicanos diante do fracasso eleitoral em Rondonópolis adquire contornos alarmantes não apenas pelas manifestações de destempero verbal do governador e da primeira-dama, mas, também e principalmente, pelas ações que buscam, via Ministério Público Eleitoral, cassar o mandato que o povo conferiu a Zé do Pátio. Como tem sido amplamente divulgado, o MPE e a Justiça Eleitoral se revelaram zelosos ao extremo, de tal maneira que o processo que apura as denúncias contra Pátio ganhou celeridade como nunca se viu antes.

Parafraseando o presidente Lula, diria que, nunca antes na história deste Estado, membros do MPE e do TRE se mostraram tão céleres para apurar uma denúncia de suposta compra de voto. No caso que envolve Zé do Pátio, chamam a atenção, entre tantos fatos, as pressões por parte de alguns dos poderosos gabinetes do Palácio Paiaguás, o destempero verbal do governador e de sua esposa, a parcialidade de alguns setores da mídia regional – em Rondonópolis, a maioria da Imprensa é carimbada de “governista” – e a curiosa troca de comando das investigações, com a repentina desistência de um juiz, que alegou “problemas de saúde”.

Não bastasse o fato de que o juiz indicado para decidir o caso, segundo o noticiário, teria um histórico de vereditos, no decorrer da última campanha eleitoral em Rondonópolis, sempre contra Zé do Pátio e a favor dos republicanos.

Fica bastante claro que o governador Blairo Maggi e o PR, nos últimos dias, forçaram a barra para que a Justiça Eleitoral decidisse o quanto antes esse rumoroso caso. De preferência, a favor dos republicanos. A propósito, parece não ter sido à toa que Zé do Pátio liderou, dias depois da eleição, um movimento de protesto, na porta do Ministério Público, exigindo “ética e transparência na política”, bem como alertando a população para “estranhos procedimentos” adotados pela instituição.

Quem conhece Zé do Pátio custa muito a acreditar que o parlamentar tenha se utilizado do abominável expediente da compra de voto para se eleger prefeito de Rondonópolis. Até porque, ele e seus aliados nunca esconderam que a coligação que sustentou sua candidatura fez uma campanha desprovida de recursos financeiros, em contraste com a do adversário, suspeito de se beneficiar das máquinas públicas do Município e do Estado.

Tão carente de recursos esteve a campanha peemedebista, que um fato bastante curioso passou despercebido da mídia que cobria o evento: no auge da disputa, a pelo menos 15 dias da votação, os telefones e a Internet foram cortados, por absoluta falta de pagamento. Ainda assim, a equipe de marketing do peemedebista foi até o fim da disputa desfalcada de equipamentos considerados imprescindíveis numa campanha eleitoral. A pergunta que não quer calar é: se não tinha “míseros” R$ 3 mil para quitar débitos junto à operadora de telefonia, Zé do Pátio dispunha de recursos para comprar votos?

Não tenho nenhuma procuração para defender o prefeito eleito de Rondonópolis. Contudo, como cidadão, sou frontalmente contra esse estado de coisas, em que fica evidenciado o rancor de um grupo político que não respeita o resultado democrático das urnas. Rondonópolis, afinal, não é uma terra sem lei.

Em tempo: Adilton Sachetti, segundo o noticiário, não fará a transição do cargo para Zé do Pátio, neste dia 1º de janeiro. Vai para a praia. Prova que não tem o menor apreço pelo povo, que, sabidamente, o rejeitou nas urnas. Vai curtir as delícias da boa vida ao lado do padrinho, Blairo Maggi.

Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
[email protected]

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias

Saiba usar o poder de recomeçar

Algumas pessoas apesar de ter a consciência do desperdício...

Tecnologia a serviço da sustentabilidade

A evolução tecnológica desempenha um papel fundamental no fortalecimento...

Tive um Infarto, posso fazer exercícios?

A prática de exercícios físicos após um infarto do...