Validação é a Ética na Pesquisa em Administração.
Segundo Pedro Filho (2008), as Ciências Sociais vêm admitindo duas principais perspectivas para a compreensão da verdade; o pesquisador cita Taylor & Bogdan (1992) ao tratar sobre o objetivismo (1) e o subjetivismo (2) como formas clássicas de interpretação e aferição dos fatos. Porém surge um terceiro caminho, que é a crítica ou sociocrítica em Bravo & Eisman (1998), por onde se vislumbra questionar se poderiam as Ciências Sociais utilizar a metodologia das Ciências Naturais para investigar os fenômenos humanos no espaço social, como vem sendo defendido desde Augusto Comte e outros positivistas. Entretanto uma corrente filosófica do método e aferição se inspira na tradição kantiana, tendo como defensores os idealistas. Nesta corrente, o pensamento científico e as emoções são inseparáveis, pois entram no cenário a tradição, os valores e toda uma complexidade que rompe, definitivamente, com qualquer semelhança entre a metodologia com os seus procedimentos para medição nas Ciências Sociais, e as Ciências Naturais. Tal paradoxo requer um posicionamento em benefício da creditação dos resultados esperados de um trabalho científico.
O teste de validação na Pesquisa em Administração permite a Teoria das Medições e Validação em Gonçalves (2004); para este autor, os objetos são nomeados e classificados por seus atributos, definidos pela escolha do pesquisador. É como nas pesquisas que envolvem a formulação de constructos e a perspectiva dos seus significados; são oriundos de fatos levantados ao longo do processo investigativo; inclui as variáveis que influenciam uma decisão e as conseqüências previsíveis, partindo de premissas proficientes contrapostas. Portanto é possível aferir validação, mediante escores de aprovação ou rejeição destes constructos, variáveis e conseqüências de afirmações submetidas à consulta seguida de teste, como nas pesquisas de mercado, tendências do consumidor, preferências individuais e tendência do comportamento do consumidor para geração de modelos, qualidade total e outras pesquisas envolvendo consulta pública por amostragem.
Por outro lado, não há como negar que, no eixo das Ciências Sociais Aplicadas, a crítica poderá ser uma providência válida. Para tanto é necessário que os referidos constructos sejam levados ao crivo entre aqueles que conhecem na sua grandeza o fenômeno ou processo, por estar direta ou indiretamente envolvido na situação, e pela sua sensibilidade reflexiva sobre a realidade estrutural que foi levantada. Desta forma, a aplicação do teste por meio das Escalas Multiítens em Gonçalves (2004) poderá ser tomada como medida de aferição, que inclusive foi aplicada com êxito por R. T. Viega, na sua Tese de Doutorado, no Centro de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais.
Aspectos éticos serão considerados em trabalhos que envolvam reserva de mercado, segredo empresarial e estratégia competitiva. Pedro Filho (2008) trata sobre as propostas em Achío Tacsan (2006), quando oferece orientações válidas para a conduta ética diante da atividade e do próprio método de intervenção. O respeito às pessoas envolvidas nesta tarefa é sustentado pela autora em dois pilares: primeiro, a autonomia destes atores e segundo, a beneficência que o produto trará para todos. Outros princípios universais consagrados também serão considerados, como a não-maleficência, a justiça e a segurança dos envolvidos, bem como o consentimento informado tratado por Dunn y Chadwick (1999:16-17).
Para Achio Tacsan (2006), o princípio de beneficência tange a obrigação de reunir os esforços de modo a garantir o bem-estar ao sujeito da investigação; além do dever de maximização dos benefícios prováveis, e minimização no caso de possíveis danos. O princípio de justiça evoca o amparo a grupos culturais e sociais, raciais e étnicos. O princípio de segurança visa à garantia de que o trabalho não causará qualquer dano aos envolvidos. O princípio do consentimento informado visa a garantir que o sujeito da pesquisa esteja consciente de cada uma das etapas do trabalho investigativo e que poderá ser interrompido sob controle e, se isso ocorrer, estará o sujeito da pesquisa devidamente apto a desvincular-se livremente do processo investigativo.
Como se depreende dos focos ora tratados, a Pesquisa em Administração de natureza qualitativa pode trazer validação por técnicas quantitativas, mediante configuração objetiva para análise subjetiva, em critérios válidos. Outro aspecto, o de natureza ética, deverá vir completando o cenário investigativo, para que esclareça a função humana no social deflagrado na relação sujeito e objeto em pesquisa social.
Flávio de São Pedro Filho é professor, doutorando em Gestão de Empresas, Administrador e docente para os níveis de graduação e pós-graduação.