Do distante país asiático nos chegam diariamente as incríveis notícias sobre os jogos olímpicos. A cada quatro anos é assim, o mundo se reúne em um evento esportivo que celebra a paz, a solidariedade e a justiça entre as nações. As olimpíadas são uma metáfora do mundo ideal a que todos aspiramos, as disputas realizam-se em condições de igualdade e sob regras que se aplicam a todos sem distinção. O ambiente dos jogos olímpicos é organizado, limpo, seguro, e um clima de celebração e igualdade permeia o evento. Não é raro, inclusive, ver um atleta proveniente de um país em desenvolvimento ocupar o lugar mais alto do podium. É verdadeiramente maravilhoso!
Do mesmo continente asiático, no entanto, emergem acontecimentos perturbadores. No Cáucaso, uma região da Ásia ocidental, entre o mar Negro e o mar Cáspio, a Geórgia, um país aliado de Washington, enviou tropas para retomar a Ossétia do Sul, uma região que declarou sua independência da Geórgia em 1992. Moscou, que apóia a secessão do pequeno território e tem forças de paz na região, respondeu rapidamente enviando tropas ao país vizinho, dando início a um conflito entre os dois países que já fez quase cem mil refugiados, e centenas de mortos segundo as Nações Unidas. Analistas acreditam que o conflito foi deflagrado propositalmente durante as olimpíadas para desviar a atenção mundial.
A glória olímpica e os terrores da guerra sintetizam os resultados, em grande medida, das opções que o ser humano faz. O mesmo governo que se propõe organizar os jogos olímpicos, pode, a rigor, decidir promover a guerra. A China que nos brinda com este fabuloso espetáculo é a mesma que viola o embargo da venda de armas ao Sudão, acusado de genocídio na região de Darfur. Em ambas situações o ser humano, com todas as suas habilidades e talentos, está no centro do processo de criação que pode conduzir tanto à morte quanto à vida.
Este dualismo – paz e guerra – que caracteriza o cenário mundial e provoca nas mentes e corações a sensação de tristeza e desalento, está presente também em nosso dia a dia. O homem é o único ser capaz de conduzir-se por meio de decisões tomadas a partir de valores e princípios éticos, isto é, para nós, existe opção, há a possibilidade de escolher entre os diversos caminhos que se nos apresentam. Afortunadamente, poucos têm em suas mãos o poder de decidir os rumos de uma nação. A maioria de nós decide sobre temas corriqueiros, mas não menos importantes.
O servidor público, por sua vez, que desempenha funções com amplo alcance social, jamais poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Suas ações, fundamentais, para a edificação de uma nação, integram um amplo sistema que resultará na proteção e garantia aos direitos individuais. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no artigo 37 caput e parágrafo 4° da Constituição Federal.
Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sob o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
Daniel Almeida de Macedo é Integrante da Comissão de Ética da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz)