Álcool, imprudência, alta velocidade e falta de consciência de condutores de veículos e pedestres. Esta combinação explosiva faz de Cuiabá e de todo Mato Grosso, uma das regiões com o trânsito mais violento do país. Nos primeiros cinco meses deste ano, somente na Capital, morreram mais de 100 pessoas. A maioria jovem, entre 18 e 27 anos.
Assumi a direção do Detran há 15 meses e, desde então, através de parcerias com os demais órgãos de trânsito, como PRF, PM, Guarda Municipal e SMTU, estamos buscado formas para conter o avanço da violência. As estatísticas apontam uma vítima a cada 38 horas. Neste exato momento, enquanto você lê este artigo, pessoas estão morrendo no trânsito. Alta velocidade é a causa de 90% dos acidentes. Portanto, poderiam ser evitados.
Quando assumi o Detran disse que deveríamos rever a política de fiscalização e de punição aos infratores e defendi os radares como meio mais eficaz para isso. Muitas pessoas me apoiaram, juntamente com grande parte da nossa imprensa. Mas não são apenas os radares que vão diminuir a violência, é preciso mais educação.
Durante o mês de maio e parte de junho, o Detran promoveu, com especialistas em trânsito, um ciclo de palestras nas escolas e universidades, sobre a fragilidade do corpo humano diante de acidentes. A nossa idéia foi sensibilizar as pessoas para uma conduta defensiva, tanto condutores quanto pedestres.
Durante as palestras mostramos como pequenos descuidos, como ir à esquina sem cinto de segurança ou capacete, podem mudar a vida, não só do protagonista, mas de famílias inteiras. Além disso, realizamos campanhas permanentes de educação, como o programa PETE, que insere, de forma transversal, o tema trânsito escolas. Mas ainda existe um longo caminho a percorrer para atingir níveis aceitáveis de acidentes e, até lá, precisamos encontrar formas eficazes de conte-los.
Sei que assuntos como radar e rigor na fiscalização geram polêmica, mas não há outra saída. Pergunte a quem perdeu familiar no trânsito, ou que tem em casa um jovem em estado vegetativo, o que pensa sobre o assunto. Será que aqueles que são contra, hoje, vão esperar para estar na mesma situação para mudar de idéia? Não seria o caminho mais dolorido?
As estatísticas mostradas pelo sociólogo Eduardo Biavati, durante as palestras que realizamos, apontam 19 feridos e seis seqüelados para cada morto em acidentes. Já que os mortos não voltam, vamos pensar nas pessoas que “sobrevivem” para expiar a dor da imprudência, seja de si ou de terceiros. Aí está a grande tragédia do trânsito. Quantos mais terão de ficar iválidos numa cama, dependendo da caridade alheia e de parcos benefícios do INSS? Vamos mudar o foco, não falemos mais dos mortos.
Teodoro Moreira Lopes é presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran MT)