Há quem ache que tudo o que tinha para se dizer sobre a atitude do deputado Maksuês Leite, em desistir da pré-candidatura a prefeito de Várzea Grande, num dos mais escandalosos episódios da política pantaneira, já foi exaustivamente analisado, revisado, reeditado…
O noticiário da semana que passou, com efeito, foi farto na abordagem do assunto, como haveria de ser natural, mas ele não se esgotou. A expectativa é sobre os reflexos desse ato nas eleições.
Muita gente ainda custa a acreditar que isso, de fato, aconteceu, apesar das lamentáveis evidências. Afinal, Maksuês abdicou de um projeto que vendia (e o povão o comprou) como sério, frustrou as expectativas de uma mudança radical no processo administrativo, sobretudo, quanto ao resgate da moral e dos bons costumes.
A intempestiva renúncia do deputado do PP suscitou profunda indignação porque ele decepcionou um contingente considerável de cidadãos ansiosos pelo restabelecimento da ética e da integridade na gestão dos negócios públicos na ex-Cidade Industrial.
Nos últimos meses, ele apareceu no cenário como uma referência política (fato que abordei em artigo), por despertar, junto ao grosso da coletividade, um sentimento de esperança, bem como alimentar a expectativa de uma “revolução” na administração pública.
As pesquisas de intenção de voto, sem dúvida, atestavam essa realidade, assim como refletiam a imagem do parlamentar como sendo a de um político sem desgaste, a representação do “novo”; quando nada, uma alternativa para pôr um fim no atraso, materializado na figura do seu outrora adversário, o ex-governador Júlio Campos (DEM), para muitos, um ícone do “coronelismo” – e até do autoritarismo.
Parte considerável da mídia se ateve ao inusitado do episódio, apelando para a ironia e relegando a um plano secundário a gravidade do gesto de Maksuês; outra parte se rendeu ao maquiavelismo de Campos, num misto de exaltação e bajulação explícita. Pouquíssimos se preocuparam com o futuro de uma cidade que começa a entrar num difícil processo de transição e, agora, passa a viver um grau elevado de instabilidade política.
Faltou dizer, por exemplo, que Maksuês não enxergou (ou não quis enxergar) que a sua candidatura, pelo que até então inspirava em termos de mudanças, em contraste com o antiquado, se fortaleceu e virou motivo de preocupação para os “coronéis” que colocam suas conveniências pessoais muito acima dos interesses coletivos. Ele contrariou interesses e já ameaçava o maior projeto do Democratas: a candidatura do senador Jaime Campos ao Governo em 2010.
Com efeito, uma derrota de Júlio Campos – o que, aos poucos, se tornava evidente – colocaria em risco extremo o tal projeto de Jaime de tentar um retorno triunfal ao Palácio Paiaguás. Maksuês não admite, mas foi alvo de fortes pressões, de um jogo duríssimo e sujo, de um xeque-mate: não poderia vencer as eleições em Várzea Grande; se as vencesse, não tomaria posse. Quem conhece os meandros da política rasteira, do jogo sujo, afirma que esse é o jeito de fazer política dos líderes do DEM em Várzea Grande: com truculência.
A se lamentar que, por tabela, esses esquemas trevosos atinjam, em cheio, o cidadão várzea-grandense. Nada disso, no entanto, afasta do eleitor de Maksuês a certeza de que ele se acovardou, ao se curvar aos “coronéis” que tanto combatia. Muito pior, se aliou ao bando.
Em tempo: O DEM ameaça com uma nova pesquisa do Ibope para aferir os estragos provocados pela sinistra aliança com o PP junto ao eleitorado varzeagrandense. O perigo é que esse levantamento também joga com a amnésia coletiva, aliado ao fato de que recente pesquisa sobre quem seria o candidato a prefeito pelo partido, até hoje, gera suspeita. E põe suspeita aí…
Não bastasse isso, parece que o desespero bateu na porta do DEM de Várzea Grande: Júlio Campos e sua turma, agora, tentam tirar ninguém menos do que o prefeito Murilo Domingos (PR) do caminho. O ex-governador deixa transparecer que pretende ser uma espécie de unanimidade nas eleições de outubro. Para todos os efeitos, é oportuno lembrar que a única unanimidade eleitoral no mundo – pelo menos, ele sempre divulgava que vencia pleitos com 100% dos votos -, segundo a história, foi Saddam Hussein, o sanguinário ditador do Iraque, que, como se sabe, morreu na forca.
Mas, para alívio dos demistas, em Várzea Grande, os ditadores seguem impunes, ao longo do tempo.
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
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