O Brasil está vivendo mais um episódio de pleito eleitoral. A sociedade, como sempre, se prepara para ouvir repetidamente, massacrantemente, as mais variadas versões de soluções dos problemas dos municípios, do Estado e, por fim, do Brasil. E isso, diga-se de passagem, só é possível porque as administrações passadas, não fizeram nada. O pior é que eles, os candidatos, são rigorosamente convincentes. Sabe daquela história de “Maria que amava João, que amava Lúcia, que amava Pedro…?” pois é, eu vejo que quem almeja o poder, principalmente o poder arrecadador – é o caso das prefeituras – sempre vai jogar pedra na administração, mesmo sabendo que a administração atual, em algum momento, já fez, ou ainda faz parte do mesmo grupo de gananciosos. E aí? Como é que o povo fica?
O fato é que a enxurrada de propostas vomitada pelos candidatos tem conotação de futuro, de desenvolvimento, de superávit na economia, no PIB, nas relações sociais e por aí afora. Não duvide de mim e nem titubie, as propostas dos candidatos são muito mais consistentes que as da Organizações Tabajara. È como se nós, idiotas da sociedade, quer queiramos ou não, aceitássemos a mentira secular deles como se ela fosse um fato verídico, com firma reconhecida e passada em cartório do céu e assinada embaixo por Deus. É mole?
Não tem escapatória e não tem jeito, diz o ditado: ”a esmola quando é demais, o santo desconfia”. Nos últimos meses tenho recebido sorrisos de pessoas importantes, gente de classe, gente que nunca havia me notado, embora estivéssemos no mesmo ambiente, no mesmo espaço. Nunca ouvi nem um bom dia, boa tarde, boa noite. Cheguei a pensar que as pessoas estavam mudando, que elas estavam mais felizes e, por conta disso, estavam mais fraternas. Cheguei ao horizonte paradisíaco que me indicava ou apontava uma fase de confraternização com a sociedade. Só não podia precisar quando essa suposta fase havia iniciado e quando ela poderia terminar. Aliás, despertando a minha preguiçosa imaginação e refrescando minha idéia, os caminhos apontam para o corre-corre dos votos que os políticos estão disputando. Como alegria de pobre dura pouco, essa suposta boa fase está agendada para até o dia de 15 de novembro. Após essa data, com certeza vai voltar à fase ruim, e com força total.
Vamos ter que correr acelerado atrás do lucro, porque o prejuízo é certo, notório e com jurisprudência consumada. O candidato eleito, como se por magia, passa por um processo de amnésia: as propostas são esquecidas e passam a fazer parte apenas das boas intenções. Vem a hora de mudar o discurso. Dizer à sociedade que “a coisa não é bem assim”, “que não tem orçamento pra isso, nem pra aquilo, nem pra nada”. Outro jargão é o já famoso e deslavado “nos primeiros anos vamos arrumar a casa”. Aí é que mora o perigo: se a família dele for grande, vai demorar muito tempo pra ser arrumada. Nessas horas me vem à cabeça uma pergunta: E o povo? Bem, a resposta a essa pergunta saiu da boca da ex-Ministra do ex-presidente da república, Fernando Collor:” o povo é apenas um detalhe”.
Gilson Nunes é jornalista em Mato Grosso