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Senso comum x educação

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Em todas as outras profissões, para que se possa questionar a conduta de um profissional habilitado é necessário que se faça uma junta de outros com a mesma formação. Poucos são os leigos que questionam a posição de um advogado, de um médico, de um dentista, de um promotor, de um juiz, de um contador… e geralmente quando fazem é pelos bastidores, porque sabem que haverá conseqüências quanto ao exercício ilegal da profissão. E é assim que deve ser.
Infelizmente na educação é ao contrário. O indivíduo nem estuda e se julga no direito de criticar a postura dos professores. Mal entra em curso de graduação e já se sente o dono da verdade, palpitando, criticando, “manchando” toda a classe que trabalha nesta área.

Como professora, posso e devo destacar que a acadêmica não está tão bem preparada como imagina para escrever. Ela, enquanto estudante do ensino superior, deveria saber que em artigos de opinião podemos usar a linguagem conotativa, mas não expressões como o “correr atrás dos cursos”, o verbo achar e repetição de um mesmo substantivo por nove vezes. Isso os meus alunos dos últimos anos do ensino fundamental sabem!
Afirmo também, enquanto profissional, que a universitária desconhece o trabalho de quem ela critica, bem como a realidade do ensino público do estado de Mato Grosso. Pois das questões em pauta, durante a greve, a reposição salarial foi apenas uma das reivindicações. É comum focalizar um item só porque existem muitos fatores relativos ao ensino público que a minoria dos cidadãos conhece, tais como:
1) Há obrigatoriedade por lei de se aplicar 25% da receita tributária em educação, não incluindo neste percentual as verbas provenientes de transferências e repasses; 60% desse valor devem ser destinados para pagamento dos profissionais de educação, mesmo assim a maioria dos municípios e estados brasileiros não cumpre.
2) Durante a greve também foi exigido concurso público com mais freqüência, já que não tem acontecido de acordo com a necessidade e com o tempo estipulado em lei.
3) Os docentes têm formação continuada nos finais de semana ou no intervalo entre um período de aula e outro. No estado e no município aproximadamente 98% dos efetivos têm pelo menos uma pós-graduação. E quando eles possuem mais, só recebem por uma. Os certificados dos cursos são bienais, pois são contados apenas os certificados do ano e dos dois anteriores, mesmo os de idiomas que duram em média três anos e que todos sabem que não são baratos.
4) Os conteúdos que os educadores devem repassar obedecem a uma ordem e são explicados com a preocupação de que os educandos aprendam para que posteriormente possam ingressar na universidade pública. Uma das explicações para o resultado do ENEM é que muitas vezes o repasse dos assuntos é feito só com cuspe e giz, pois não há livros e materiais suficientes para todos. Isso quando existe estrutura adequada para se lecionar ou aprender.
5) Os professores do estado que passam no concurso, mesmo com pós, mestrado, doutorado, etc.,recebem o salário inicial por três anos.
6) Ao assumir um concurso no estado é o aprovado que custeia todos os gastos com a enorme lista de exames que deve fazer antes de tomar posse, além de passagem e hospedagem quando não tiver a sorte de ter conhecidos em Cuiabá.
7) Não há mestrado em Sinop. Mesmo que houvesse não seriam aulas de apenas quatro horas e à noite.
8) Quanto aos mestres e doutores que atuam na educação, eles reclamam do salário sim, porém não fazem isso para pessoas que não têm o mesmo nível de formação, que não são da área ou próximas, porque para um que não é formado, os professores ganham muito bem.
O que foi exposto aqui é apenas um resumo das peculiaridades que norteiam o meu oficio. A ignorância disso e das outras verdades leva a conceitos errôneos. E quando isso acontece com os educadores raramente vemos o reconhecimento público do erro por parte de quem o fez. Mas para a pessoa a qual me refiro, o tempo ensinará que o melhor é só mexer com os ovos quando se sabe o que fazer com eles, ou seja, falar mal de uma categoria, quando estiver inserida no contexto, através de concurso ou contrato, e saber o que está falando, porque a introdução à teoria está muito distante da prática. E omelete todo mundo faz!

Angelita Heidmann é professora da rede pública do Estado de Mato Grosso.

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