Na semana passada, o jornalista Kleber Lima, em artigo publicado em jornais e sites – talvez, por falta de assunto -, se dispôs a um exercício lastimável de retórica: considerou a possibilidade de encerrar a carreira de articulista e desandou a apontar supostas incoerências no comportamento de figuras de relevo na política.
Sobrou até para este modesto articulista, apontado como “incoerente e injusto” por criticar a propaganda fora de época do deputado Walter Rabello (PP), bem como afirmar que o também deputado Maksuês Leite (PP) é referência política em Várzea Grande.
Na parte que me toca, devo esclarecer, de início, que não faço “campanha sistemática” a Rabello e nem o acuso de “toda sorte de crime ético só por ter um programa de TV e ser pré-candidato a prefeito”. Quem aponta o dedo para o deputado é o Ministério Público, que, aliás, já o acionou na Justiça Eleitoral.
Acho que incoerente, na verdade, é o comportamento de Kleber Lima, ao longo do tempo. Com efeito, em artigo publicado no Diário de Cuiabá, há uns quatro anos e valendo-se do silêncio sepulcral de Dante de Oliveira, o jornalista enalteceu o ex-governador do PSDB como “o homem do século”. É muita incoerência para quem, na eleição de 1998, votou em Júlio Campos (PFL), preterindo o tucano, como observou o jornalista Arlindo Teixeira Jr., à época, em comentário publicado no jornal.
Talvez ele pretendesse considerar Dante o homem do século e Júlio, do milênio. Do contrário, coerência aí passou muito longe.
O jornalista escreveu que eu faço campanha sistemática contra Walter Rabello. Sabe-se que, à sombra de uma empresa de Comunicação, Lima atua como marqueteiro do parlamentar. Ora, pelo que me consta, o jornalista é contratado para as mesmas funções pelo presidente do PMDB, deputado federal Carlos Bezerra. Isso mesmo, Carlos Bezerra, que Kleber Lima, valendo-se da função de editor de Política do Diário, não cansou de citar como “velho e ultrapassado”.
A assessoria que Lima presta a Bezerra, segundo uma fonte, foi negociada por um amigo (um ex-deputado, para ser mais exato) da cúpula do PMDB. Agora, como é que o nobre colega pode trabalhar para Bezerra e Rabello, se ambos não sentam mais à mesma mesa? Como é possível trabalhar, ao mesmo tempo, para Deus e o Diabo – sem querer identificar aqui quem, dos dois, é “este” ou “aquele”? Tudo isso é muito esquisito e, assim, muito incoerente. É antiético.
E quando chegar a eleição de outubro, para que lado penderá Kleber Lima, já que Bezerra não medirá esforços para a derrota de Rabello? Quer dizer, se o deputado sair candidato. Para isso, é preciso que a Justiça Eleitoral de Mato Grosso desembarque do dorso da tartaruga e caminhe pelas pernas próprias do interesse público.
Kleber Lima também se doeu por eu me referir ao jovem deputado Maksuês Leite como “uma referência política” do outro lado da ponte. Ora, ora. Só não admite que Maksuês seja referência em Várzea Grande quem possui obtusidade córnea! Ou não? Maksuês é, hoje, sim, referência, assim como o são Júlio e Jaime Campos.
Mas, a resistência de Kleber Lima ao deputado Maksuês Leite tem uma explicação: o jornalista destila veneno ao político várzea-grandense porque, ainda na campanha de 2006, em seus artigos, defendia determinadas candidaturas e condenava outras. Citou Maksuês como um provável quarto suplente. O então candidato ameaçou processá-lo, em nota publicada no site O Documento. O deputado está aí para confirmar essa história…
Lima diz que escrever é seu maior vício. Seu maior pecado seria tomar posição, principalmente contra a injustiça e a incoerência, “ervas daninhas da pós-modernidade que teimam em se eternizar”. Que o nobre jornalista continue com o vício saudável de escrever. Mas, antes de apontar o dedo inquisidor para os outros, é bom que olhe para trás. Afinal, o passado costuma condenar as pessoas.
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
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