“A verdadeira força dos governos, não está em exércitos ou armadas, (ou em agências, nacionais de polícia e no ministério público) e sim, na crença do povo de que eles são claros, francos, verdadeiros, justos e acima de tudo, legais. Governo que se afasta desse poder, não é governo – mas uma quadrilha instalada no poder.”
Abraham Lincoln
Sou apenas um brasileiro comum, homem de sementes e letras. Um semeador na acepção da palavra. Hoje semeio idéias, que formam opiniões, provocam reações, instigam a inteligência e buscam despertar o senso crítico e chamar a atenção dos meus leitores para pequenos detalhes que muitas vezes passam despercebidos em meio às milhares de informações, quase sempre inúteis que absorvemos inconscientemente todos os dias. Mas também semeio outros tipos de sementes, no ventre virgem da fértil terra destes chapadões do nortão. Há anos, fecundo o solo, emprenho a terra molhada, em seus períodos cíclicos de cio e fartura. Nem sempre os frutos desta relação milenar e mítica vingam. Algumas vezes a natureza resolve agir de maneira diferente e as sementes não vingam, como não nascem os filhos abortados. Mesmo quando produzidos com os componentes do amor e da dor, do suor e das lágrimas que costumam marcar as ações e relações humanas.
Ainda assim, a paixão pela terra continua a existir, como também pelas letras, e ano após ano, eu e milhares de outros semeadores repetimos o ritual, movidos pela esperança e pela ambição de uma vida digna através do trabalho que produz as riquezas e cumpre a função social da terra e do capital. Pagamos por isso, porém, no Brasil de hoje, um preço altíssimo pela nossa ousadia. A ousadia de acreditar neste país, em seus potenciais, em seus governos e seus projetos e também pela ousadia de sonhar e buscar realizar este sonho trabalhando. As vezes, um preço alto demais para aqueles que assim como os agricultores,os madeireiros e outros empresários ousaram acreditar nos potenciais desta terra, hoje tratada e retratada mundo a fora, como região de marginais, bandidos, foras da lei, que semearam pão e progresso, riquezas e desenvolvimento e agora colhem os frutos amargos da coação policialesca haytech, midiática e sensacionalista, que assim é realizada por lhe faltar argumentos verdadeiros, racionais e dados não fictícios.
Coação institucionalizada sob a forma de leis fabricadas sob encomenda, medidas provisórias autoritárias, decretos espúrios e inconstitucionais, produzidos nos frios gabinetes de ar refrigerado da capital federal, aonde este país dia a dia,vem sendo vendido a preço vil,sem que o povo brasileiro disto se aperceba e reaja.
As leis ambientais no Brasil, são as mais rígidas do mundo e pela forma como tem sido criadas, trazendo em sua concepção elementos de cunho ideológico, preconceitos, pressões internacionais, interesses estratégicos e econômicos de nações ricas e protecionistas, são lesa-pátria. Pela maneira equivocada que os dois últimos governos federais, de FHC a LULA, permitiu e permite que elas sejam aplicadas, sob as ameaças dos talões de multas, sob a ostensiva exibição ridícula da força policial, com suas metralhas apontadas para homens e mulheres trabalhadores e das grades prisionais que assustam empresários honestos, de forma alguma atendem aos legítimos interesses de nosso país, assim como não irão levar a bom termo a preservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável que todos nós desejamos, e pelo qual temos trabalhado em sociedade juntos ao Governador Blairo Maggi.
O vaidoso e entreguista FHC, estava errado! O Governo Federal do Presidente Lula está errado! A Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, com sua aura messiânica e a sua vaidade inconfessa de não admitir mais um erro de avaliação por parte do INPE e de seu Ministério, está errada! A grande mídia de nosso país está errada! Assim como estão errados os românticos e ingênuos ambientalistas brasileiros, xiitas ou não, que ainda acreditam que medidas de força e coação como estas que estão sendo realizadas, fundamentadas no decreto-lei inconstitucional 6321 de 21/l2/07, podem garantir a sustentabilidade ambiental da Amazônia Brasileira. Não irão garantir e estão tendo efeito contrário ao desejado, pois além da revolta motivada pela maneira injusta como tem sido aplicadas, da angústia e da insegurança produzidas na região, elas espalham a miséria, a fome e o desespero, pois são desprovidas de inteligência, bom senso e propostas concretas de apoio a uma mudança dos modelos produtivos à décadas vigentes, criados e incentivados por políticas públicas e implementados segundo a Constituição Brasileira dos governos da época. Além de tudo, são de um autoritarismo assustador, dignas de países governados por caudilhos ou fascistas, pois o povo desta região jamais foi ouvido e levado em consideração e acreditem; nós temos propostas muito mais razoáveis e inteligentes do que estas que o governo apresenta.
O maior e mais cruel agente de desequilíbrio ambiental no mundo é a miséria, o atraso, o subdesenvolvimento. E é para lá que estão nos empurrando e é lá que querem que fiquemos. Como exemplo, cito o Continente Africano, dividido como uma colcha de retalhos por nações ricas e colonizadoras num passado recente, agora deixados à própria sorte, onde milhões de seres humanos, legítimos donos daquela terra, morrem em guerras tribais ou são consumidos pela AIDS ou pela fome e miséria, pois a grande parte do seus territórios, com terras férteis aptas ao cultivo e produção de alimentos e divisas, são hoje Parques Nacionais e reservas, onde cidadãos ricos da América do Norte e Europa vão fazer safáris, matar ou tirar fotos de animais exóticos; alheios às mulheres e crianças que morrem de inanição na frente de suas lentes fotográficas.
Parques e reservas criados sob as mesmas pressões que nosso governo acata de joelhos, de forma subserviente e cúmplice.
Será que no Brasil e em Mato-Grosso, com toda a aptidão natural para a produção e com tantos ativos ambientais, iremos assistir ao mesmo processo que ceifa milhões de vidas todos os anos no Continente Africano, em função de um governo inapto?Será que o povo de nossa região e os demais brasileiros somos todos incapazes de lutar por aquilo em que acreditamos, trabalhamos, sofremos e construímos durante gerações? Será que não somos suficientemente inteligentes e conscientes para buscarmos a mobilização, a união e exigirmos que o governo Federal, primeiro cumpra a constituição do Brasil e depois faça sua obrigação enquanto administrador público, implementando políticas justas e inteligentes que garantam o desenvolvimento sustentável do ponto de vista humano social e ambiental?
Se aqueles que lerem este artigo não encontrarem as respostas para estes questionamentos e ainda se sentirem incapazes de ações pró-ativas para reverter este quadro, aí sim, será verdadeira aquela afirmação que diz que cada povo tem o governo que merece e neste caso, o nosso será igual ao da comparação feita na citação de Abraham Lincoln, no início deste artigo.
Sendo assim, então prometo abandonar a minha atitude talvez até arrogante e impregnada de uma vaidade narcísa, de ousar ser um semeador de idéias, deixá-los em paz (Seria a paz dos cemitérios?) e voltar a lavrar a terra e semear sementes, em outro lugar, e quem sabe, numa pátria que não renegue seus filhos e onde governos incompetentes não nos roubem a esperança e o direito de trabalhar e sonhar.
Clayton Arantes – liderança rural e acadêmico de jornalismo em Sinop
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