Cuiabá, 25 de fevereiro de 2008.
Meu nome é Maíra de Barros Sardinha. Sou jornalista e filha de uma das pessoas que está como refém dos índios da etnia Ikpeng, no Parque Nacional Indígena do Xingu, a pós doutora em Antropologia Social pela USP, Edir Pina de Barros. Ela é estudiosa do povo Karib, da etnia Bakairi.
Hoje, tive notícias de que ela passou muito mal por causa da pressão arterial, a Funai chegou a enviar um avião, mas ela não foi liberada ainda. Ela é hipertensa e não pode ficar sem medicamentos.
Sei que neste caso, poderia ser solicitada a intervenção do Ministério Público Federal, porém, se isto ocorrer a Polícia Federal será acionada para ir até o local. Os índios se rebelariam ainda mais e a situação poderia ficar pior.
Além disso, eles já informaram a um contato da Funai (DF), que pode ocorrer morte se a PF entrar na terra deles. “As pessoas que vivem na sociedade civil capitalista não percebem as diferenças culturais de um povo que tem contato há poucas décadas com o “homem branco”, disse ele em desabafo por conversa no telefone”. Não identificarei sem prévia autorização o nome dessa pessoa que me informou tal fato.
Estou revoltada com a situação em que a Funai não se manifesta em enviar um representante. Os índios querem que seja o presidente do órgão, Márcio Meira, mas ele está irredutível. Tenho questionado: se ele está na função é para cumpri-la. Será que vão esperar até quanto? Compreendo a revolta dos índios por causa da destruição que apenas eles sentem acontecer na vida sócio-cultural e por respeito a isso não me manifestei antes.
Continuo mal informada e atendida pelo órgão responsável. Por isso, optei por contatar a mídia e autoridades políticas. Cresci junto aos índios e os respeito. Tento me manifestar de uma maneira em que não fiquem prejudicados. Por eles, por minha mãe e seus colegas peço que sensibilizem mais com a situação.
Quanto ao manifesto, estou profundamente preocupada e pensando como lhe dar. A priori, na semana passada, decidi por ficar quieta e esperar em respeito aos índios. Acreditava que as autoridades fossem se manifestar e a mídia perceber o quanto o caso está complicado.
Sei que a situação no Xingu é triste por causa da construção da Usina Paranatinga II e das demais. A região está nos arredores da área cujo significado secular será destruído pela hidroelétrica. O local é sagrado para o conhecido internacionalmente ritual Karup. E mesmo assim, na visão das autoridades políticas, os avanços das tecnologias e da necessidade do crescimento econômico de Mato Grosso parecem estar acima de tudo. Por outro lado, entendo a importância e necessidade da energia.
O caso da construção da Usina foi parar na primeira vara Justiça Federal por uma Ação Cívil Pública movida pelo MPF, procurador Mário Lúcio Avelar. Mesmo assim as obras continuaram.
Agora, o que tenho a dizer é que estou revoltada. Nenhuma autoridade toma atitude porque é fácil ficar esperando usufruindo o conforto que a energia elétrica que uma Usina proporciona, como: ar condicionado, água gelada, comida requinta, etc.
Atenciosamente,
Maíra Sardinha