Mais de dois anos depois de deflagrada a “Operação Curupira” pela Polícia Federal, com a prisão de madeireiros e a suspensão de licenças para comercialização e novos desmates, a região Norte de Mato Grosso ainda vive numa situação de paralisia e perplexidade. Recentemente, duas outras operações da Polícia Federal, intituladas Mapinguari e Guilhotina, potencializaram ainda mais os danos econômicos à nossa região.
Uma medida policial que, por seu caráter, teria como objetivo disciplinar o mercado florestal, na verdade levou a uma situação absurda de paralisia total das atividades — como se, de uma hora para outra, o simples fato de ser proprietário rural ou madeireiro já fosse em si um crime.
Aqueles que pensam assim não conhecem a realidade das milhares de famílias que dependem dessa atividade para sobreviver e hoje estão à mingua na periferia das cidades. No Norte de Mato Grosso, mesmo as pequenas cidades já começam a desenvolver suas favelas.
Ao que parece, ficou de repente decretado que já não é possível mais comercializar madeira em Mato Grosso, mesmo que de forma sustentável. Pois podemos contar nos dedos da mão o número de projetos de planos de manejo aprovados desde a operação da PF.
Bem sabemos que o Estado tem um caráter policial, punitivo e disciplinador. E isso todos nós do Nortão estamos sentindo na pele, sobretudo as famílias mais pobres. Mas o Estado também tem — ou deveria ter — uma preocupação primordial com a condição de vida das pessoas diante das quais ele não é senão mera representação. Mas, nesse aspecto, nós aqui da região Norte não nos sentimos representados.
Em termos práticos seria, uma vez enquadrados os madeireiros que agiam na ilegalidade, que se liberasse para trabalhar aqueles que almejam fazer tudo dentro da lei. Até para dar o exemplo de que é possível, sim, fazer o manejo florestal sustentável.
Uma analogia do que acontece hoje seria como, para punir os motoristas que atravessam no sinal vermelho, o Detran simplesmente fechasse as ruas para o trânsito. Pronto: ninguém mais passa, ninguém burla as leis do trânsito. Mas e o direito de ir e vir?
Do mesmo modo: onde é que fica o direito de uma pessoa, uma vez proprietária de um pedaço de terra, de tirar dela o seu sustento, beneficiando assim uma infinidade de outras pessoas e desenvolvendo laços comunitários? O direito ao trabalho é talvez um dos mais sagrados ao homem, assim como o direito à vida e à liberdade de expressão. O trabalhador, aliás, expressa-se é através da produtividade e das transformações sociais que dela advém.
Por isso eu me pergunto. Não estaria nesse estado de paralisia ou, mais especificamente, na paralisia do Estado, a resposta para aquela tão famosa quanto incômoda pergunta a respeito desse nosso Brasil: “Por que um país com tantas riquezas naturais, e com um povo honesto e trabalhador, não vai pra frente”?
A campanha de reeleição do presidente Lula ficou marcada pelo batido bordão “Deixa o homem trabalhar”, cujo sucesso demonstra a identificação do povo brasileiro com o trabalho digno e edificante. O presidente ganhou, por mais quatro anos, uma nova chance — mas e nós, presidente, o povo, quando teremos a nossa?
Manuel Messias Sales é prefeito de Feliz Natal