O segundo mandato do governador Blairo Maggi está produzindo um novo grupo político no Estado de Mato Grosso. Trata-se dos “excluídos”. Eles não guardam nenhuma semelhança com os “descamisados” da Era Collor, tampouco com os “pés-descalços” do PT-Povo de antigamente. Em geral, esses grupos citados representaram nas suas épocas categorias sociais que ganharam na linguagem profundamente simbólica da política tais simplificações.
Os “excluídos” da Era Maggi caracterizam-se por aqueles políticos que não ocupam lugar nos projetos de poder do governador de agora, e sequer entram nas perspectivas futuras da chamada Turma da Botina. Eles têm em comum o fato de serem políticos com densidade representativa, mas mesmo assim não terem reconhecimento sincero do Paiaguás.
Como política é simbologia pura, esses políticos, radicados em todas as regiões do Estado, e em diversas escalas de poder (desde as câmaras de vereadores, prefeituras, legislativo estadual e também no Congresso Nacional), são tantos e tão diferentes que acabam por traduzir de forma bastante significativa o sentimento de outros setores sociais e econômicos que também vão ganhando consciência do seu grau de exclusão.
A diferença entre os políticos e os não-políticos quanto a serem contemplados ou excluídos de um projeto de poder se manifesta de forma diferente, mas igualmente profunda. Os políticos reclamam de falta de espaço político, cargos, vagas em disputas, etc. Enquanto os não políticos reclamam investimentos em determinadas áreas e oportunidade de negociar com o governo.
Um governo vai mal sempre que o número de excluídos aumenta, tanto faz se no segmento político, no social ou no empresarial. Como o segmento político é mais sensível e o com maior capacidade de mobilização e articulação, se movimenta primeiro, e é normalmente quem conduz ou influencia os demais segmentos a se movimentarem também. Há casos, evidente, em que os demais segmentos atropelam os políticos, mas isso normalmente ocorre quando esses abdicam de sua condição de vanguarda, por incapacidade de leitura, por omissão ou por conveniência. Mas, mesmo quando estão lenientes, eles sempre correm atrás da onda.
No caso presente, alguns políticos proeminentes, cumprindo a lógica, começaram a se movimentar primeiro. Os reflexos dessa movimentação se fazem sentir na Assembléia Legislativa, que já entabula a formação de um bloco independente, ensaia algumas CPI’s e transforma um elenco de dados em discurso de oposição.
Outro reflexo correlato dar-se-á nas eleições do ano que vem. Exceto o PT, embora com resistências, nenhum dos outros partidos classificados como grandes ou médios revela ou alimenta pretensão de caminhar com o PR do governador em 2008. E o reflexo final, numa relação de causa e efeito, será a eleição de 2010, onde o preenchimento das três vagas majoritárias no âmbito do Estado determinará os procedimentos e atitudes partidárias.
De fato, são essas três vagas que fazem com que os líderes dos principais partidos se mexam desde já. É tese mansa e pacífica em partidos como PP, PMDB, DEM, PPS e PDT, por exemplo, que nenhum de seus correligionários caberá nessa chapa de governador e dois senadores a ser montada pela Turma da Botina em 2010, uma vez que, se já estão excluídos hoje, imagina daqui três anos?!
Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing e consultor político.