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Mato Grosso em chamas

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Hoje, mais uma vez, acordei sem conseguir respirar e ver as coisas ao meu redor. Quando abri as portas de casa chorei, não pude ver a cidade. Ela estava invisível, coberta por uma camada ardente de fumaça, que faz arder os olhos, o nariz e deprimir a alma. Fui tomada por uma indignação e por muitos questionamentos. Quem são os responsáveis por esta loucura? Onde estão os órgãos governamentais que fiscalizam o desmatamento e as queimadas? Será que tudo isso está acontecendo por que a corrupção é costumeira nos meios governamentais? Será que os homens enlouqueceram de vez? Não dá pra conceber o que está sendo feito com o meio ambiente no Estado do Mato Grosso e nos demais Estados da região amazônica.
Os homens por aqui, em nome de um pseudodesenvolvimento, a cada ano que passa derrubam milhões de árvores. Milhares de hectares de mata são varridos pelos fazendeiros, para o plantio de grãos – especificamente da soja – e para as pastagens do gado. O desmatamento é visível em toda a região, é só acessar as imagens dos satélites para ver que tanto o nosso Estado, quanto a região Amazônia, estão em chamas. O governo vai à mídia e diz que tem conseguido diminuir o desmatamento e as queimadas em todo o Brasil. Contra fatos não há argumentos: estamos vendo que isso não é verdade, pois vivenciamos a realidade ambiental caótica em que se encontra o Mato Grosso e a região que compreende a Amazônia legal.
As conseqüências dessa prática insana são devastadoras à saúde humana, ao desenvolvimento sustentável, à biodiversidade, ao aquecimento global, ao ciclo das chuvas, às futuras gerações e à floresta Amazônia, que tomba ao som de motos serras e é devorada pelas chamas da ganância.

Sabemos que por traz de toda essa destruição está o modelo capitalista agroexportador. Praticado por latifundiários e financiado por bancos estatais, pelo capital internacional e por grandes grupos econômicos, trata-se de um modelo descomprometido com as questões ambientais, visando o lucro imediato, onde concentra cada vez mais riquezas e terras, através da apropriação ilegal dos recursos naturais e da irresponsabilidade ambiental. Em suma, esse é um modelo econômico excludente e predatório, além de insustentável se analisado do ponto de vista ambiental.
Uma medida deverá ser tomada para conter essa desenfreada atitude egocêntrica, que estarrece e choca qualquer cidadão que não viva no conforto do ar condicionado no trabalho, no carro e em casa. Acredito que em lugar algum do mundo aconteça uma barbárie ambiental desta escala, que deixam escandalizados até os anjos dos céus. O Governo precisa endurecer, colocar as Forças Armadas para conter esse terrorismo ambiental, criar uma Força Tarefa para cuidar da nossa região, pois chagamos ao limite. O povo brasileiro não deve tolerar mais isso.

Sou a favor da soberania Nacional, mas penso que se o Governo e o povo brasileiro não têm sensibilidade, responsabilidade e capacidade para preservar e conservar a floresta amazônica, se faz necessário uma intervenção de organismos internacionais compromissados com a manutenção da biodiversidade e da vida no planeta.
Vejo muitos slogans por aqui como “Fora Greenpeace da Amazônia”, “A Amazônia é dos brasileiros”, além de projetos no Congresso Nacional par excluir o Mato Grosso da Amazônia legal. Então pergunto aos senhores defensores destes slogans: isso tudo visa a preservação da floresta Amazônica? Acredito que não, pois o que vemos acontecer nesta região nos faz entender que na verdade, quanto menos intervenção, denúncia, punição e fiscalização, fica melhor para continuar praticando essa barbárie que estamos vivenciando neste momento e que não podemos tolerar mais.

Serlene Ana De Carli é professora e ambientalista da ONG ECODAM

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