Em recente reunião da Fundação Ulysses Guimarães, aflorou um debate entre os presentes sobre a construção de um Projeto do PMDB para Mato Grosso. No decorrer do debate, todos assentiram na constatação de que o PMDB novamente passou a ser visto pelo povo como a alternativa mais viável de poder, sendo este fenômeno presenciado em todo o Brasil.
Uma pergunta, formulada pelo empresário Aldo Romani, membro histórico do partido, indagou sobre a razão de peemedebistas como Carlos Bezerra se fortalecerem enquanto lideranças políticas, eis que o discurso do PMDB permanecia quase idêntico ao de décadas atrás.
Esse assunto já havia merecido algumas noites de sono para tentar compreender o fato político, me levando a buscar no passado explicação do que estava se projetando para o futuro.
Respondi ao companheiro Aldo que o velho discurso do PMDB continuava a ser o mais moderno dentre os grupos políticos de Mato Grosso. Essa afirmativa encontra explicação no fato de que o projeto de construção de uma sociedade justa para seus cidadãos ainda não se concretizou.
O PMDB de Mato Grosso, não olvidando outros fundadores, teve seu crescimento e ápice enquanto força política durante o período da Ditadura Militar, na luta pela democracia. Nessa época Mato Grosso foi destinatário de uma onda de migração de todas as regiões do país, com a vinda de trabalhadores em busca de terras, indo para o campo e famílias em busca de empregos se instalando nos núcleos dos Projetos de Colonização e na Capital, trazendo consigo os problemas sociais.
Juntaram-se três peças fundamentais para a construção do discurso do Partido: Carlos Bezerra, com forte atuação na área rural, missionário da reforma agrária; Dante de Oliveira, formado na militância comunista do MR-8 que trouxe para Cuiabá e outras cidades, o discurso urbano, defendendo os sem-tetos e trabalhadores das cidades; e Márcio Lacerda, com seu grande poder de articulação e a incomum percepção de desenvolvimento estratégico do Estado. Era o MDB, junção das iniciais dos nomes de Márcio, Dante e Bezerra.
A desagregação posterior desse núcleo, com a saída de Dante e de Márcio Lacerda do PMDB, não teve o condão de esvaziar o discurso do partido, Tanto é verdade que o povo mato-grossense demorou a sentir de fato que esses dois não mais faziam parte do PMDB. Dante e Marcio enredaram pelo caminho do neoliberalismo e o PMDB continuou com o então chamado “discurso ultrapassado”.
A base política do PMDB não se esfacelou como era de se esperar. Bezerra assumiu sozinho o ônus de manter a integridade do Partido e o discurso de defesa dos trabalhadores do campo e da cidade e do desenvolvimento com justiça social. Pagou caro por isso. Para alguns virou “cacique”, para outros estava morto politicamente.
Entretanto, o PMDB foi crescendo, com amadurecimento de suas idéias, agregando ao seu discurso a defesa da economia, do meio ambiente, do saneamento etc., absorvendo o boom do agronegócio sem deixar de lado as questões não resolvidas como a reforma agrária e as questões urbanas.
O povo de Mato Grosso passou por vários governantes. Experimentou todas as grandes lideranças políticas do Estado; Jaime, Dante e agora o empresário Blairo Maggi. Essa experiência fez a sociedade comparar os governantes e voltar os olhos para o PMDB novamente.
Qualquer comparação que se faça leva à constatação de que o PMDB, enquanto governou o Estado ou quando do exercício de mandatos parlamentares conseguiu realizar obras fundamentais para o desenvolvimento dos municípios e do Estado e implantou projetos sociais não comparáveis a quaisquer outros governos que o sucederam.
Por isso a vivida lembrança e a saudade do PMDB e de Carlos Bezerra.
Hoje, o PMDB está construindo um núcleo mais amplo do que o aguerrido Manda Brasa. À forte liderança de Bezerra se está juntando outros líderes fundamentais para a formação do discurso, tais como o Vice-Governador Silval Barbosa, com invejável pragmatismo em sua prática política, Teté Bezerra, com a carismática sensibilidade para ouvir o povo e perceber problemas e soluções, Nico Baracat, com o histórico familiar e pessoal com forte sotaque cuiabano e capacidade de inserção na sociedade, Elarrmin Miranda com a lógica do discurso acadêmico, Aldo Romani, a quem denomino de Rei Midas, com a sua fantástica capacidade de empreendimento. Poderia continua citando nomes e características pos vários parágrafos, o que não ocorre em nenhuma outra agremiação partidária.
Com esse enorme conjunto de qualidades, construído ao longo da luta, a dialética permite o raciocínio de saltar em quantidade, ou melhor, rumar ao poder novamente.
Ao PMDB compete sistematizar suas idéias, ainda esparsas, através de um Projeto de Desenvolvimento para Mato Grosso. Só nos falta isso.
Clóvis Figueiredo Cardoso é advogado em Cuiabá e militante do PMDB