Caros leitores, a pedido de uma amiga, professora, peço permissão para expor às vossas críticas, esta crônica por mim escrita ainda no ano da graça e da santa paciência de 2000. Precisamente aos 10 dias do mês de outubro, uma terça-feira cinzenta em que acordei com a premonição que coisas estranhas e atípicas aconteceriam nos próximos anos. Estranho que não foi nem a coruja nem a cotovia, e sim um passarinho que me despertou para essa realidade. Foi ele, um sorrateiro e, depois, amedrontado, pardalzinho, a razão dessa crônica que passo aos leitores.
Hoje – assim comecei o meu recado – vou dar uma trégua para os políticos. Não sei se até 31 de dezembro, se até amanhã ou se até depois de amanhã. Sei apenas que hoje vou dar uma trégua para os políticos. Vou dar uma trégua, inclusive, para aquela história de secretário disso, secretário daquilo e secretário daquilo outro.
Não pretendia nem falar que a professora Irene Duarte é uma das pessoas mais cotadas para assumir a polêmica Secretaria de Educação. Não pessoal, não é a Secretaria de Educação que é polêmica. Polêmica é o que se está criando em torno dela. Quanto a Irene Duarte, soube que seis diretores estão trabalhando para que seja ela a futura Secretária e, se for, independente de sua cor partidária que eu nem sei que cor partidária é a dela, e Educação não tem cor, por certo será uma boa escolha.
Mas, na verdade, hoje eu quero mesmo é dar uma trégua para os políticos e, por isso, resolvi que não mexeria com essa classe. Poderia falar daquele inocente passarinho que hoje pela manhã adentrou a minha sala como primeiro visitante do dia a me dar um bom dia, um telepático bom dia que eu entendi no seu balançar das asas. Antes que travássemos aquela amizade que eu costumo ter com plantas e pássaros, meu visitante se assustou com o gato e voou até a janela onde, discretamente, fez um discreto cocozinho.
Certamente faria um belo relato daquele trepidante momento daquele passarinho. Ressabiado depositou no umbral da minha janela o medo de ser devorado, trucidado e se tornar alimento de um gato palerma que só se alimenta de rações para gatos palermas, já que todos os gatos palermas só se alimentam de rações e todos os gatos que se alimentam de rações compradas em casas do gênero, que não vão à caça de seu próprio alimento, se tornam gatos palermas. Assim também, dizem, ocorrem com os humanos que não vão atrás de sua própria sobrevivência, uns se tornam palermas, outros, alguns outros, se tornam vereadores e, às vezes os dois chegam ser sinônimos, não sinônimos perfeitos, porém palermas perfeitos, se é que podemos chamar palermas de perfeitos.
Voltando ao passarinho, estou certo de que aquela visita repentina poderia ser classificada como um prenúncio, uma mensagem do além, de que muita coisa está por acontecer. Coisas que eu ainda não sei de que tipo de coisas e ou acontecimentos se tratam, mas que estão por acontecer. Tomara que sejam coisas boas, mesmo que sejam coisas simples. Simples como aquele cocozinho depositado no umbral da minha janela.
Carlos Alberto de Lima é jornalista em Alta Floresta
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