A cada dia os publicitários nos impressionam com tanta criatividade. O que vemos nos meios de comunicação são verdadeiras obras de arte que nos encantam e muitas vezes nos levam a consumir produtos sem qualquer necessidade. São os profissionais da ilusão agindo na nossa mente.
Mas em alguns casos tamanha criatividade acaba prejudicando o bem estar social. Resulta na desvalorização de princípios éticos, estipulados para manter a ordem, o bem estar social. Não quero ser, e não sou moralista, mas realista. No entanto, confesso que fiquei chocada com o comercial de uma loja que oferece produtos de confecção, cama, mesa e banho.
A propaganda, alusiva ao Dia dos Pais, mostra um filho que pede uma camisa emprestada ao pai, aliás, dada por ele mesmo. Revoltado com o pedido, o pai nega e, simplesmente, lhe entrega as chaves do carro e finaliza dizendo “se de por satisfeito”. O filho, no qual o comercial não deixa claro se é maior e habilitado ou não, fica perplexo diante a reação do pai que, chocado e resmungando, continua lendo o jornal.
A primeira conclusão que obtive foi a desvalorização à vida. Fiquei estarrecida – igual ao filho no comercial diante a reação do pai – sobre a mensagem transmitida. Fica claro e evidente que um simples pedaço de pano tem muito mais valor para o pai do que própria vida do filho.
Entregar um carro nas mãos de alguém, principalmente, um jovem no auge da descoberta da vida e sem experiência nenhuma, é como soltar uma criança num parque de diversões e deixar que ela busque aquilo que desejar. Não haverá limites e, sendo assim, poderá buscar o que há de mais perigoso. Sua inocência faz acreditar que tudo pode, não há riscos, afinal, lhe foi permitido. Nossos jovens não são de todo irresponsáveis, mas a liberdade, a satisfação – o que é natural na juventude – convida-o para riscos.
No Brasil, estatísticas revelam dados preocupantes nos quais 33 mil pessoas morrem ao ano vítimas de acidentes. Em média, 400 mil ficam feridas, mutiladas ou sequeladas e 40% dos casos são irreversíveis. A maioria das vítimas é jovens entre 15 e 25 anos. Os dados revelam ainda que 99% dos acidentes são provocados por falha humana. É o resultado da aventura, da descoberta e da adrenalina. Jovens, parecidos como aquele do comercial, que perderam suas vidas e junto com ela a chance de conhecer o gosto prazeroso de viver.
O governo investe na educação para o trânsito na tentativa de obter, no futuro, cidadãos conscientes sobre a importância da preservação à vida e poder exercer uma das maiores democracias, o trânsito. Mas na contra mão encontramos pessoas que colocam o capitalismo acima de tudo. Incutem na mente de nossas crianças e jovens de que eles podem tudo o que desejam, sem limites, valores e conseqüências.
A vida! O que é á vida diante de um carro, em alta velocidade, numa estrada sem fim, com todo horizonte a ser explorado. Quem sabe o pai poderá estar bem vestido (no velório) com a camisa bonita que um dia ele trocou pela vida do filho.
Maria Helena Benedet Barbuio – acadêmica de Jornalismo