Todas as autoridades do segmento da Aviação Civil no Brasil sabem que operar em Congonhas é sempre crítico e não se admite erros.
A pista principal que é de 1940 mts e a auxiliar com 1435 mts, não oferecem área de escape suficiente para imprevistos mais graves com aeronaves maiores e mais pesadas em condições adversas, como chuva moderada a forte.
Aeronaves como o Boeing 737-700 e 737-800, Airbus A320 e A319 operam bastante apertados em pistas assim, não que seja proibitivo, mas é sempre crítico, pois qualquer falha humana, mecânica, fator meteorológico, ou falha de infra-estrutura pode causar uma tragédia como a que ocorreu com o Airbus da TAM.
O triste de tudo isto, é que as autoridades brasileiras não aprendem com as tragédias. O acidente com o Fokker 100 da TAM em 1996, bastante parecido por sinal a este último, foi o sinal de que o volume do tráfego aéreo em Congonhas deveria diminuir e não aumentar como ocorreu inversamente. Isso sem falar nos perigos que um aeroporto assim, dentro de um emaranhado de prédios sem uma área desimpedida maior pode significar aos moradores de bairros vizinhos também.
Tudo isto, aliado à falta de vontade do Governo Federal, ANAC, INFRAERO, AERONÁUTICA e Ministério da Defesa que não se entenderam de forma definitiva desde a tragédia com o vôo 1907 da GOL em Mato Grosso(acidente este ainda cheio de dúvidas) contribuiu novamente de forma decisiva para esta nova tragédia.
Aqui mesmo no Sónotícias na Opinião do Leitor, eu já tinha dito em matéria publicada anteriormente que voar para região sul e sudeste do país estava perigoso devido a toda esta crise e desmando na Aviação Civil Brasileira.
Dessa forma, a possível falha do reverso da turbina com o Airbus não é por si só a principal causa do acidente, pois o mesmo é um mecanismo auxiliar de frenagem e não o principal como flaps, freios em rodas e spoilers. Portanto, um conjunto de fatores, como a chuva que ocorria no dia, a falta de grooving( ranhuras para escoamento da água), a pista curta, a demora em arremeter, a falta de uma área desimpedida maior, uma possível aquaplanagem, contribuiram também sem dúvidas para o ocorrido, pois em aviação não existe apenas um fator determinante num acidente e sim uma sequência e somatória de diversos erros e fatores que se juntam como num efeito DOMINÓ, e isto faz parte da doutrina de qualquer piloto.
Othmar Thomaz Ility é piloto comercial, instrutor de vôo em Sinop