PAI… Faltam palavras. Mas resta um muito obrigado a ti e a Deus! Quando criança, sempre pedia a ELE que não levasse nem o senhor nem a mãe antes que eu ficasse adulto e tivesse condições de suportar a perda daqueles que me deram a oportunidade à vida. Deus atendeu esse pedido: eu cresci, mas a perda é quase insuportável. Sinto-me uma criança indefesa. Mais difícil ainda é estar longe no momento que em tu partes. É meio-dia, do primeiro dia de julho, um dia de domingo, dia que era para ser de descanso e celebração, não era pra ser de dor.
Ainda estou em Sinop, mas espero chegar a tempo de te ver fisicamente pela última vez – infelizmente de uma forma que ninguém jamais quer ver uma pessoa tão querida, tão próxima, tão presente na nossa vida e que influenciou tanto em nossas escolhas. É nessas horas que a gente percebe, com muito mais clareza, a grande importância da família na educação dos filhos. Esse, talvez, seja esse o verdadeiro sentido da tradição: transmitir ensinamentos e, por que não (?), conselhos para a próxima geração. Ficam teus conselhos. Fica tua história. O tempo e a doença matam o homem físico, mas não matam, pai, o registro que deste à história de tua vida: de menino da roça, de ferroviário (desde o tempo das marias-fumaças!), de bom filho, irmão, esposo, pai, amigo. Na política, simpatizante do Vargas, que chamavas de “finado Getúlio”, como se fosse um amigo próximo.
Tu, pai, que foste grande parceiro dos teus companheiros da Viação Férrea, dos teus vizinhos da Vila Ferroviária, deixas saudade em vários cantos, trilhos e ruas de pedra da histórica Cruz Alta. Cidade contada em tantas línguas pelas histórias de Érico Veríssimo que foi o cenário onde o senhor, pai, em casa, ao redor do fogão à lenha, ao som do minuano que soprava e invadia frestas da janela e das paredes de tábua, me aconselhava: “Estuda guri. O estudo é o maior patrimônio que vou deixar pra vocês”.
Mas, verdadeiramente, pai, o que fica é o exemplo. Espelho-me em ti e na minha mãe Amélia: a vida de vocês e a possibilidade de viver que me deram é o maior patrimônio que deixas.
Valeu pai! Valeu Toríbio Pinheiro da Silva. Você foi o que todo pai deve ser para um filho: um herói. Foi e continuará sendo, porque são dos heróis que dependemos para um mundo melhor. E, assim como a mãe, tu és o meu chão, meu porto-seguro. Recorrerei a ti e aos teus ensinamentos nos conselhos que darei aos meus filhos e nas escolhas que ainda farei, para seguir os caminhos que tu apontaste. E assim, segue: a história do tempo, que cria as raízes – e do vento que, ao soprar, paradoxalmente, ao invés de arrancá-las, as torna resistentes.
João Batista Lopes da Silva é professor em Sinop