Senhor secretário
Sirvo-me deste espaço democrático para denunciar uma nova forma de violência que vem atormentando a vida de proprietários rurais, sitiantes e chacareiros estabelecidos na Baixada Cuiabana.
Não bastassem os inúmeros problemas inerentes à atividade agropecuária, agora instalou-se na região uma nova “praga urbana” caracterizada por alicateiros e arrombadores que invadem galpões e residências e furtam eletrodomésticos, motores, fiações e toda a sorte de objetos de cobre ou alumínio.
Apesar das inúmeras ocorrências registradas e de tantas outras sem o registro formal – afinal, temos trabalho e não podemos viver nas ante-salas das delegacias – , qual tem sido a rotina da polícia? Digita boletins e, às vezes, visita (literalmente) o local da ocorrência. Com ou pouco de sorte, constata o óbvio, isso é, a veracidade dos fatos. Quando não, conclui que “aparentemente tudo estava em ordem”, embora as portas estivessem arrombadas e no local já não existia um único palmo de fiação elétrica. (Fato recente ocorrido no município de Santo Antônio do Leverger).
Esse modo peculiar de combater o crime não prestigia as ações de inteligência ou de investigação. Prefere lidar com fatos consumados. Acredita no poder do instinto e na eficácia das viaturas arrastando-se por estradas empoeiradas. Trata a violência endêmica de maneira similar às brigas de visinhos ou aos distúrbios em botequins. Ou ainda, supõe que os sucatões urbanos desempenham a função social de gerar empregos e defender o meio ambiente. De fato. Pelo número de ferros-velhos e desmanches instalados em Cuiabá, seus habitantes devem ser os campeões do desperdício… Santa Paciência!
Não pretendo aqui discutir o ofício da polícia. Não é a minha especialidade. Porém, como cidadão, não posso me calar ante a tantos furtos registrados e à morosidade no seu equacionamento. De igual forma, já estou farto de ouvir “conselhos” nos átrios das delegacias. Muitas dessas propostas envergonham o poder público e não dignificam a conduta de um cidadão de bem.
Acredito que a polícia deve aperfeiçoar o seu modo de atuação e dar respostas concretas às demandas da sociedade, no caso em pauta, às populações rurais e ribeirinhas. Acredito também que o exercício de um cargo público não deve embotar o compromisso histórico de um governador ou de um secretário. Ao contrário, deve incentivá-lo mais e mais a encontrar soluções para os problemas das comunidades.
Por fim, quero me desculpar por encaminhar esta carta também aos meios de comunicação. Talvez possa merecer alguma atenção de V.Sa. e da mídia e, quiçá, contribuir para o controle dessa praga urbana que agora ataca também o meio rural mato-grossense.
Atenciosamente
Darci Secchi é professor doutor em Mato Grosso