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O candidato que escolheu o inferno

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Há algum tempo me contaram uma anedota cujo protagonista era um certo candidato a senador (ou a reitor, não me recordo mais…), vitimado em um acidente corriqueiro – uma bala perdida, um atropelamento, algo assim.
Ao chegar ao céu, como era previsto pelo inusitado, os gestores celestiais ainda não haviam decidido sobre o seu paradeiro final, por isso permitiram que o recém chegado escolhesse um lugar para a eternidade. E assim foi feito.
Após visitar as três alternativas ainda disponíveis (posto que o papa decretara o fechamento do limbo), o candidato não teve dúvida, escolheu o inferno. Aquele ambiente lhe pareceu interessante. Lá havia palcos em bom número e público por toda a parte. Todos discutiam conjuntura, argumentavam, enfim, pareciam estar traçando planos para um futuro promissor. Mal sabia o candidato que a comunidade infernal encontrava-se em período pré-eleitoral e que, passadas as eleições, a vida no inferno voltaria à normalidade.

Na última assembléia dos professores realizada na sede da Adufmat me veio à memória essa antiga anedota. De fato, a mente humana é geniosa e às vezes nos brinda com cada idéia… Acreditem. Pensei estar vendo naquele seleto ambiente quatro ou cinco pré-candidatos a reitor em plena campanha eleitoral. E como foi dito naquela ocasião, o que os diferenciava era apenas o estilo. De resto, todos pareciam comprometidos, ponderados, conformes com a liturgia requerida para um futuro pleito.
Na lida profissional como antropólogo sou levado a analisar os cenários e a identificar os atores e as suas representações. No palco do nosso sindicato não é preciso ser um especialista para perceber que o debate em torno da greve, para muitos, não passa de uma cortina de fumaça, um mote, uma forma de tecer alianças e angariar visibilidade. Afinal, também lá tem microfones e público para aplaudir.

De forma similar ao que ocorreu com o sujeito da anedota, passadas as assembléias, os palcos darão lugar ao quotidiano e a normalidade revelará uma universidade fendida e fragilizada, refém de interesses de atores de sangue quente e de sangue frio.

Darci Secchi é professor doutor do Instituto de Educação/UFMT

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