O senador Jaime Campos denunciou esta semana o Partido da República por estar, no seu dizer, cooptando de maneira pouco ética os prefeitos de outros partidos aliados. Vociferou mas teve a cautela de poupar de suas críticas o presidente e Comandante em Chefe do PR, que vem a ser o governador Blairo Maggi.
O cuidado de Jaime em relação a Blairo justifica o título deste artigo. A rigor, não é novidade que o partido de quem esteja no poder seja o maior e mais forte. As adesões surgem por gravidade. Presenciei outro dia um articulador do PR recomendando a um prefeito que verificasse antes com o seu próprio partido a oportunidade de mudar de sigla. Não me pareceu que tenha havido um assédio brutal do PR sobre os alcaides. Ao contrário, muitos prefeitos, no afã de tentar melhorar seu relacionamento com o governo, se ofereceram ao PR.
Essa mistura entre partido e governo é clássica e afeta a todos que já tiveram experiência de poder. A esquerda socialista foi a primeira a sofrer com esse dilema, quando permitiu o surgimento da chamada aristocracia operária. Os partidos burgueses, embora sem militância de massa, vivem-na no âmbito dos líderes intermediários, justamente os prefeitos, vereadores e deputados.
Infelizmente, a cultura partidária em nosso meio é inexistente. Partido, salvo raríssimas e honrosas exceções na política brasileira, é pura conveniência. Exceção na qual, registre-se, deve ser enquadrado o próprio Jaime Campos e parte da atual cúpula do PFL, que estão por ali faz bastante tempo, e já enfrentaram muitos revezes nesse período sem hesitar. O mesmo se diga do velho PMDB e do PT, entre os maiores partidos da atualidade em nosso estado. Pra quem não entendeu, é um elogio.
Entretanto, o próprio PFL, bem como o PMDB – e porque não, o PT -, experimentaram seus melhores momentos como partido exatamente quando estavam empodeirados. Fora do poder, os partidos encolhem, passam por uma depuração – o que pode ser salutar, mas desde que os dirigentes aprendam com essa lição, e no futuro, quando a fronteira de poder passar por suas fileiras novamente, fixe critérios mais partidários e conceituais para receber adesões, e não apenas o eleitoral.
A situação guarda semelhança com a relação do político com o eleitor. O candidato reclama invariavelmente do que chama de corrupção do eleitor, que pede benefícios pessoais, quando não financeiros, para dar seu voto. Esquece, todavia, que foi ele, o candidato, quando precisava de votos, que ofereceu as vantagens ao eleitor. O eleitor aprendeu a técnica, dominou-a e a usa a seu favor agora. É uma relação de causa e efeito que vive uma espécie de espiral – o limite é o infinito.
Pior de tudo é que o bom senso e uma leitura realista do ambiente político em que vivemos não apontam para a superação desse cancro. Algumas mexidas na legislação, dentro das inúmeras propostas da chamada Reforma Política poderiam sinalizar mais concretamente para isso. A adoção da fidelidade partidária, com punição de perda de mandato para quem mudar de partido, é bem-vinda nesse sentido. Mas, o que precisamos, realmente, de fato, é de uma mudança cultural, onde os eleitores retomem o interesse pela política e o respeito pelos políticos; e os políticos, por sua vez, aprendam a respeitar e a se vergar ao interesse coletivo, no mínimo aos dos grupos sociais que representam. Até lá, manda quem pode e obedece quem tem juízo.
Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing e consultor de comunicação
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