Algumas regiões de Mato Grosso estão vivendo uma experiência muito interessante de mobilização social com o apelo do voto em candidatos locais ou regionais.
A iniciativa partiu de Tangará da Serra, que lançou o início do ano uma campanha do voto útil. Ressentida que estava de ter perdido espaço político no cenário estadual e até federal, a cidade, pólo de uma microrregião importante para Mato Grosso, conseguiu unir diversos segmentos, heterodoxos, para esse consenso de que os chamados candidatos “copa do mundo” ou “pára-quedistas” representam um prejuízo muito forte para a região, na medida em que não exercem, depois de eleitos, compromissos locais.
Foi como a descoberta da pólvora. A notícia se alastrou rapidamente pelo Estado, e outras regiões igualmente esvaziadas politicamente ao longo dos últimos anos também criaram seus movimentos pelo voto local.
Cáceres, no Alto Pantanal; Pontes e Lacerda, no Vale do Guaporé; e Barra do Garças, no Médio Araguaia, são alguns dos exemplos, e com situações coincidentes com a de Tangará: todas estão sem representação na Assembléia, ou com representação decrescente nos últimos 12 anos.
No período anterior, vivíamos um movimento inverso. O voto era mais distritalizado. Barra do Garças, por exemplo, chegou a eleger quatro deputados estaduais e um federal em 1986. Cáceres também elegeu. Pontes e Lacerda e Tangará também.
Talvez em função disso, os chamados candidatos estrangeiros decidiram invadir os redutos regionais, acabando com o que se chama de “curral eleitoral”. Normalmente sustentando por uma estrutura financeira agressiva, cooptaram líderes locais, se infiltraram nas regiões, pegaram os votos e … desapareceram!
O voto regional é a tendência lógica. Embora o deputado precise ter uma visão global do Estado e do País, a representação regional é legítima. Assim como a representação classista, tais como “bancada evangélica”, “bancada ruralista”, “bancada da saúde”, “bancada sindicalista”, etc.
Rondonópolis, embora tenha uma das maiores representações políticas da atual conjuntura, também lançou seu movimento pelo voto local. Talvez antevendo que, se bobear, os estrangeiros vão invadir sua praia (como fizeram em outras regiões), levar seus votos (como fizeram em outras regiões), e desaparecer depois (como fizeram em outras regiões).
O problema maior é que o esvaziamento político é irmão siamês do esvaziamento econômico. Não é mera coincidência que as regiões Oeste e Araguaia ocupam a lanterninha do desenvolvimento econômico e humano de Mato Grosso. Pode-se até ter dúvida sobre o que ocorreu primeiro (se o esvaziamento econômico ou o político), mas o fato é que um leva ao outro, porque, a rigor, o desenvolvimento econômico também é uma questão de planejamento político. E vice-versa.
O Araguaia, por exemplo, tem o triste apelido de Vale dos Esquecidos. Não era assim. Já foi uma das regiões mais promissoras de Mato Grosso. Capital do arroz na década de 70. Foi o maior município do mundo. Hoje vive dessas lendas, embora ainda tenha um enorme potencial, desde que sejam resolvidos alguns problemas relativamente simples da sua infra-estrutura de transportes, concluindo o asfaltamento da BR 158 e também da MT 100. Tem ainda o turismo de aventura e o misticismo. Mas, tudo isso não sairá do papel enquanto a região não tiver representação efetiva, que brigue por essas soluções.
Pode-se dizer o mesmo do Oeste, do Vale do Guaporé, do Médio Norte. Entretanto, não basta eleger candidatos locais. É preciso que eles, de fato, firmem esse compromisso de priorizar o desenvolvimento regional em suas atuações, e não fazer como boa parte dos deputados e até prefeitos do interior, que depois de eleitos se mudam para Cuiabá e se esquecem que prometeram ajudar as sociedades que continuam amargando o atraso e o esquecimento em suas regiões.
Kleber Lima é jornalista, consultor político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos)