Um episódio que passou meio que despercebido na semana passada foi a entrevista do presidenciável Cristóvam Buarque, do PDT, ao Jornal Nacional. A certa altura, perguntado por que não crescia nas pesquisas, se só fala num tema que todos consideram o mais importante, qual seja a educação, Buarque respondeu, numa tradução livre, que decerto educação não interessa à maioria do povo.
De fato, discutir educação nos dias de hoje, no Brasil, não é tarefa fácil. Está circunscrita aos especialistas. Isso se deve a dois fatores básicos, pelo que vejo.
O primeiro é a falta de indicadores de mérito para a maioria da população. Uma pesquisa divulgada ano passado pelo Fantástico, por exemplo, mostrava que a maioria dos pais de estudantes do Brasil, num universo de mais de 2000 entrevistados, consideravam a educação que seus filhos recebem hoje muito superior à que receberam 20, 30 anos atrás.
Isso porque o critério utilizado pela maioria das pessoas para avaliar a qualidade da educação são fatores exógenos à sala aula, ao ensino propriamente dito, como as condições dos prédios escolares, merenda, material didático, transporte, uniformes, etc.
Claro que esses equipamentos contribuem para o ensino, mas ensino mesmo é outra coisa. É conceito. É método. É a orientação ideológica e sócio-cultural que os conteúdos incutem nos alunos, na sua formação mais plena, como individuo social e ser humano.
Isso levou a outro fator, que justifica essa ausência de interesse pelo tema educação, que é a falta de bandeira dos movimentos sociais. Até a década de 80, as bandeiras eram mais verbas (quem se lembra das lutas pela aplicação da Lei Calmon, que destinava, salvo engano, 12% das receitas dos estados e municípios para a educação), democratização do setor, gestão democrática, etc.
Hoje temos 25% dos recursos públicos aplicados na educação, a gestão democrática é uma realidade, temos prédios bonitos, equipados com computadores e outros equipamentos, e ninguém sabe mais o que reivindicar.
Entretanto, o grande tema de ontem e de hoje ainda é a qualidade e a natureza do ensino que nossas escolas oferecem a crianças e jovens, desde o ensino fundamental ao nível superior. A formação dos cidadãos, que continua sendo feita por este aparelho ideológico chamado escola, deveria continuar na ordem do dia.
Mas, infelizmente, quem se arrisca a eleger esse como seu tema principal, principalmente nas eleições, está fadado à opressão do 1% nas pesquisas. Pobre a nação que relega a patamares tão inferiores de interesse um assunto tão relevante para a vida da sociedade.
Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM
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