Um fenômeno curioso e previsível começa a preocupar os líderes do frentão em torno da candidatura à reeleição do governador Blairo Maggi: a crise entre os diversos partidos e seus respectivos candidatos a cargos proporcionais, no caso, a deputados estadual e federal.
A crise é previsível porque nenhuma coligação significa, automática e necessariamente, uma aliança. Aliança política se constrói sobre um programa mínimo, e um programa mínimo impõe a necessidade de um debate profundo e amplo sobre aquilo que é comum às forças que virão a celebrar a aliança.
E foi exatamente isso o que não fizeram os 12 partidos que se coligaram em torno da candidatura à reeleição. As adesões foram ocorrendo meio que por gravidade, em função da tradição adesista da maioria dos partidos políticos de Mato Grosso. Não houve oposição programática e nem sistemática ao governo Blairo Maggi, porque, via de regra, todos os partidos sempre ansiaram estar ao lado do governador na hora da eleição. E também não houve uma integração orgânica dos partidos que foram aderindo ao governador ao longo do seu governo. Logo, todas as chapas que resultaram registradas e estão em disputa são casuísticas e frágeis quanto ao componente programático.
Embora a coligação seja uma das maiores já celebradas em Mato Grosso, nela ainda não coube todo mundo. E ela também não foi construída a partir do debate aberto e profundo sobre aquilo que poderia ser comum a todos os partidos, em termos programáticos, que pudesse, por exemplo, servir como bússola não somente na campanha, mas sobretudo no eventual segundo governo de Maggi, que será novamente, em caso de vitória, um governo de coalizão.
Sem esse cimento a unir os partidos, a coligação segue seu leito entre a nau e o barranco. É comum ouvir de candidatos a deputado da coligação, por exemplo, que estão preocupados apenas com sua própria eleição. Por dois motivos básicos: o primeiro é que consideram que a eleição de Blairo já está resolvida; e a segunda é que consideram que o palanque ficou pesado demais, e se não cuidarem direitinho da sua própria eleição, um dos seus concorrentes acabará se saindo melhor que tomando sua vaga.
Isso está gerando o que tenho chamado de fratricídio do frentão, com os candidatos proporcionais desencadeando uma guerra do perde-perde amplo e irrestrito.
Esse fratricídio pode enfraquecer fortemente a candidatura majoritária, porque cada candidato proporcional é, ou deveria ser, um general eleitoral dos candidatos majoritários. Sem esse exército de generais eleitorais, a campanha fica sem força de ocupação. Pode até ter um bom bombardeio, mas não ocupa o espaço. E sem força de ocupação, não se consolida votos.
Há ainda a rejeição de boa parte dos partidos do frentão à candidatura de Jaime Campos ao Senado. Principalmente aqueles que foram para a coligação de última hora. Preferiam outra alternativa. Não tiveram muita possibilidade de reverter isso. Era mais ou menos pegar ou largar. Como são adesistas, pegaram. Mas, pelo que esses primeiros 15 dias de campanha estão mostrando, pegaram de mão mole.
A leitura desse quadro impõe uma necessidade premente dos líderes do frentão: formar um núcleo de comando que seja capaz de administrar essa crise interna crescente, essa avaria no casco, que se não for devidamente consertada a tempo, pode afundar o barco. Mas, certamente nenhum comando será eficiente e eficaz se o projeto não for adequado. Significa que se faltou discussão programática antes da formação do frentão, a política terá que ser feita agora, ainda que tardiamente. Mais uma prova de que nenhuma força substitui a política. Nem na eleição.
Kleber Lima é jornalista e Consultor Político da ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos) e de Comunicação da KGM