Imprevisibilidade para o Senado
KLEBER LIMA*
As eleições estaduais deste ano em Mato Grosso estão repetindo um fenômeno curioso, já registrado no pleito de 2002, quando a disputa ao Senado foi o centro das atenções durante um longo período, em detrimento da disputa ao governo do Estado.
Naquele ano o deslocamento das atenções para a Câmara Alta se deveu ao fato de, na largada das campanhas, o então candidato Antero Paes de Barros estar como franco favorito ao governo, o que deixava os candidatos da oposição praticamente fora da disputa.
Isso também ocorre agora, quando Blairo Maggi entra na campanha como favorito absoluto nas pesquisas, deslocando de novo o centro de gravidade da eleição para a vaga de senador.
As peculiaridades de 2002 residiam no fato de haver duas vagas em disputa, e também de os principais líderes políticos do Estado, à época, estarem concorrendo ao Senado, e não ao governo, casos de Dante de Oliveira, Carlos Bezerra, Jonas Pinheiro e Serys Slhessarenko. No fundo, esses líderes avaliavam que Antero era imbatível ao governo e que, portanto, só restavam as duas vagas de senador para disputarem.
O favoritismo de Maggi è reeleição explica em parte o processo atual, pela mesma razão anterior. Enxergando-se, contudo, um fato relevante na disputa deste ano: apesar de existirem dois dos grandes líderes colocados na disputa ao Senado, há bastante tempo, casos de Antero e Jaime Campos, nenhum deles conseguiu índices mais consistentes na disputa. Juntos, segundo qualquer pesquisa estadual já feita até o momento, os dois ainda não conseguiram estourar o que se chama no meio de “bolha de crescimento”, ou seja, a soma de suas intenções de voto está no limite do universo de um terço do eleitorado, na modalidade estimulada.
Significa que até o momento o eleitor não viu em nenhum dos dois alternativas desejáveis, e ainda aguarda o surgimento de novos nomes. Trocando em miúdos, os nomes colocados não empolgaram o eleitor. Pode-se ressalvar que ainda não há o “time” certo para o eleitor se definir. Que ainda não há um ambiente eleitoral mobilizador da atenção da maioria e que, portanto, na hora que a campanha começar de fato, lá por agosto, os candidatos ganharão mais densidade.
Entretanto, deve-se registrar também que nas últimas eleições estaduais os diversos candidatos já tinham ganhado mais densidade no momento de realização das convenções, momento em que estamos vivendo. Dante de Oliveira, por exemplo, já tinha algo em torno de 70% das intenções de voto em junho de 2002.
Mas, este ano não. Na largada das campanhas, temos cerca de 90% dos eleitores indecisos para senador na modalidade espontânea, e cerca de 65% indecisos na modalidade estimulada. Sendo que a indecisão cai sensivelmente quando são apresentados mais nomes alternativos, como o próprio Dante, Carlos Abicalil e Eraí Maggi.
Ou seja, os nomes atualmente colocados só chegarão com chances reais na reta final da corrida à senatória se não surgirem outros candidatos alternativos até sexta-feira. Essa é uma leitura bastante factível. Entretanto, deve-se ainda levar em conta que favoritismo precoce pode ser um presente de grego para qualquer candidato a cargo majoritário, sobretudo se já tiver atingido seu teto de crescimento. Porque aí só restará um movimento possível, que é a queda, por se tornar o alvo principal de todos os outros, o que dificulta muito a manutenção da posição. E vimos esse movimento ocorrer em 2002. Com dois terços dos eleitores completamente indecisos e apáticos com a disputa ao Senado, a imprevisibilidade deverá reinar nessa disputa, para os que já estão no páreo, e para alguém que ainda se interesse em entrar na disputa.
Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM
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