A Embrapa Pantanal, comprometida com o desenvolvimento sustentável da Região, tem priorizado em suas pesquisas a conservação do ambiente, entendida como processo educativo. Num mundo assombrado pelas ameaças à vida humana, em suas diferentes formas, o grande desafio da educação é resgatar os valores que reforcem o vínculo entre o homem, a sociedade e o ambiente. Nesta perspectiva, a reflexão teórica se configura como a principal estratégia do educador envolvido com a vida em todas as suas manifestações.
Os pressupostos que fundamentam uma educação para a sociedade sustentável devem ser suficientemente consistentes, de forma a desenvolver nos educandos a capacidade de pensar criticamente o homem e suas relações com a natureza. No entanto, se a educação tem por objetivo promover a continuidade da vida, porque o espectro da morte persegue a humanidade tão insistentemente? Porque a fome, a doença e a degradação moral se propagam na sociedade? Porque se poluem os rios, as cidades e os campos? Porque a flora e a fauna são agredidas com vigor cada dia maior?
A construção de uma sociedade sustentável envolve a promoção de uma educação que estimule a transformação ética e política dos indivíduos, bem como das instituições, promovendo mudanças que percorram o cotidiano individual e coletivo. A história comprova que é possível harmonizar a convivência dos homens entre si e com a natureza, pois durante milhares de anos os sistemas naturais e os sistemas humanos conviveram de forma sustentável.
Com a modernidade, no entanto, a crise ecológica se acirra e a continuidade da vida é ameaçada pela incapacidade de se pensar conjuntamente a espécie humana e a natureza que passa a ser entendida como um objeto inerte e passivo, separado do ser humano. A confiança humana na razão, aliada à política mercantilista, transforma a natureza em matéria morta, objeto da cobiça, fonte de enriquecimento rápido. Pode-se dizer então que a natureza se desumaniza e o homem se desnaturaliza, num processo em que o homem passa a ser considerado como o centro do universo e todas as demais coisas estão à disposição dele. Não existe mais interação e sim dominação do sujeito humano sobre o objeto natureza.
Esse mito do homem enquanto sujeito de todos os direitos e da natureza objeto de toda exploração deve ser superado pela educação que se quer transformadora. Para tal, há que se reforçar o vínculo entre cultura, linguagem e consciência, considerando, principalmente, que o poder também se expressa na linguagem. E a linguagem é a alavanca do processo educativo. Há que se cuidar, portanto, para que a palavra seja o reflexo de consciência crítica e comunicação dialógica dos homens entre si e com a natureza. Aqui, é imprescindível a ação dos educadores, no sentido de que a ação educativa contribua para a construção de valores éticos a partir da consciência de que as perspectivas de um futuro feliz se fragilizam, concretamente, na manutenção do dualismo existente entre ambiente e sociedade.
Neste cenário, o grande desafio da educação é mediar um novo projeto de sociedade, no qual os aspectos políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais sejam criticamente revistos. Isso implica levar os educandos a uma compreensão de que sua realidade imediata sofre os reflexos da realidade social, ao mesmo tempo em que as ações individuais vão se somar às ações de outros homens e compor o tecido social. Essa relação dialética entre o individual e o coletivo vai dar movimento à realidade, concretizando um mundo mais justo e sustentável aos humanos e a outras entidades não humanas, mas sem as quais não haveria o mundo tal qual o conhecemos.
Aldalgiza Ines Campolin é pesquisadora da Embrapa Pantanal, da Área de Comunicação e Negócio, Pedagoga e Mestre em Educação.
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