Boa intenção e bom senso nem sempre andam juntos.
O exemplo mais claro de que essa dobradinha pode ser uma faca de dois gumes, está na ação dos legisladores.
É natural que se esforcem para mostrar trabalho; o problema está na maneira como utilizam a ferramenta. Na grande maioria das vezes, apresentam projetos ou indicações limitando-se à solução de um problema presente, sem que os reflexos futuros sejam levados em consideração.
Particularmente não vejo com bons olhos a indicação para que seja criado em Sinop um Centro Comercial Popular, apelidado na própria propositura como Camelódromo.
É evidente que houve boa intenção por parte do vereador autor; afinal, vivemos dias em que a crise no setor produtivo deixou centenas de pessoas desempregadas, que sem conseguir colocação no mercado de trabalho, partem para a informalidade.
Por outro lado, é preciso evidenciar que indiretamente há incentivo ao contrabando e tal ação está diretamente ligada à sonegação de impostos.
Outros pontos divergentes da idéia inicial são: incentivo à compra de produtos piratas; desrespeito aos direitos do consumidor (produto de camelô não tem garantia), diminuição das vendas no comercio formal e conseqüente redução dos postos de trabalho e a instalação de cartéis para controle do comércio.
Como visto, ao tentar solucionar um problema, cria-se dezenas de outros.
Se há algo que pode ser feito, é a criação de um programa de incentivos fiscais para aqueles que já atuam na informalidade, mas de forma organizada como os artesãos e feirantes.
Em que pese a pretensão eleitoral, o momento é de garantir estabilidade ao que sobrou de nossa economia, não de sair à caça de votos.
Tudo ao seu tempo.
Clayton Cruz, articulista do blog imprensando.com.br