Nunca se viu partido político tão animado, tão afoito como o PSDB (ou o que restou dessa sigla) em Mato Grosso, nesses dias de intensa movimentação, por assim dizer, político-eleitoral. Ou alguém ainda tem dúvida de que os palanques de 2006 já não estão montados?
Essa animação chegou ao auge na noite de segunda-feira passada (31.10), quando a agremiação exibiu, em cadeia de rádio e TV, o seu programa eleitoral. E os seus principais líderes (os quais se contam nos dedos, por sinal) fizeram aquilo que mais sabem no momento: criticar o atual Governo.
Em verdade, entre tantos programas eleitorais que já foram veiculados no horário nobre da TV, o do PSDB mato-grossense se destacou pela eficiência da maioria dos seus participantes em desferir farpas, destilar veneno e posar de paladinos dos bons costumes.
Para começo de conversa, na abertura do comercial tucano, já começaram tentando “vender” para a opinião pública que o partido é sinônimo de ética – quando nada, o único exemplo de moralidade no contexto do pluripartidarismo brasileiro. Em se tratando de PSDB mato-grossense, todo mundo sabe que isso não é verdade.
O que sobrou dos tucanos depois da derrota para Blairo Maggi (PPS), em 2002 – o que não é muito, diga-se de passagem -, conseguiu gastar 30 preciosos minutos do horário nobre da TV, no intervalo do “Jornal Nacional”, para insultar a inteligência do telespectador, na medida em que insistiu em fazer propaganda do megalomaníaco projeto de “retomada do Poder”. Essa propaganda (como passaram a classificar alguns setores da mídia regional) sinistra (não seria nazista?) que, ainda que todos nós saibamos que dificilmente vai se tornar realidade, assusta, causa medo.
Afinal, depois de todo o “show” protagonizado por uma turma que passou oito anos no Poder e não honrou os compromissos assumidos em palanques, em duas ocasiões, a conclusão imperativa a que se pôde chegar foi a de que esse pessoal não tem moral para criticar os outros. Ex-secretários, por exemplo, que até hoje, não conseguiram se safar das acusações de desvio de dinheiro público e de sucateamento da máquina estadual, apareceram no vídeo arrotando ética e cobrando moralidade administrativa.
Não bastasse isso, por outro lado, o fato de que o Governo do PSDB, durante oito longos anos, se notabilizou pelas “obras virtuais”, aquelas que apareciam e que só existiam na TV (a mídia que esse pessoal parece dominar com maestria para ludibriar a boa-fé das pessoas, notadamente as menos avisadas). Até no próprio programa, por sinal, as obras tucanas destacadas são de autoria do Governo de São Paulo.
A legislação eleitoral brasileira, infelizmente, é capaz de enfiar goela abaixo dos eleitores-telespectadores excrescências como o horário eleitoral, até mesmo fora da época de eleição. Exceto para quem dispõe do sistema de TV paga, nem o uso do controle remoto é capaz de nos livrar de um espetáculo tão deprimente com esse que os tucanos mato-grossenses protagonizaram no começo da semana.
O governador Blairo Maggi não me passou nenhuma procuração para defendê-lo e aos seus aliados do festival de críticas do PSDB. Dias depois da exibição do programa na TV, diversos líderes do PPS se encarregaram de rebater as críticas. O secretário-chefe da Casa Civil, Luiz Antonio Pagot, por sinal, tem feito o marketing pessoal e eleitoral do chefe do Palácio Paiaguás, missão que outros assessores não têm sido capazes de cumprir.
Esse espaço privilegiado que os partidos têm na TV e no rádio (já pensou se eles fossem contemplados com páginas inteiras nos jornais e revistas para publicar suas sandices, suas mentiras?) tira o eleitor do sério. Muitos certamente alegarão que isso faz parte do “jogo político”. Por conseqüência, outros partidos usarão do mesmo expediente em breve.
A verdade é que, como eleitor e telespectador, sinto-me insultado com esse tipo de expediente. Ninguém vai tirar da minha cabeça que a propaganda que o PSDB veiculou na TV é extremamente enganosa.
Em tempo: Durante as três décadas em que milito na Imprensa mato-grossense, nunca me dispus a assinar ficha de filiação a nenhum partido político.
Antonio de Souza, jornalista, é consultor de Comunicação da Oficina do Texto –em Cuiabá.
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