Uma manifestação dos professores de Mato Grosso chamou a atenção nesta semana que passou. Além da reivindicação salarial, uma recomposição de 16,38%, os professores da rede pública estadual apresentaram um dossiê sobre as condições precárias das escolas estaduais. A notícia saiu discreta em alguns veículos, outros sumiram com a matéria, despachando-a para o “buraco da memória” como diria George Orwell no livro 1984 só para não desagradar ao “Grande Irmão”. Mas ambas as questões, a salarial e situação caótica das escolas, são graves e merecem a atenção de toda a sociedade. Aliás, quando se trata de educação deveria ser sempre um assunto prioritário para qualquer estado ou país que respeita os seus cidadãos, mas não é assim que pensam alguns governantes.
O dossiê divulgado pelo sindicato da categoria, o Sintep, aponta que 80% das 634 escolas públicas estaduais de Mato Grosso apresentam problemas estruturais. Tudo documentado com fotos, relatos e descrições do estado de penúria e abandono. Esta seria a imagem do novo paradigma que o governador Blairo Maggi anunciou para a sua gestão? Professores, estudantes, pais e mães, todos viram e ouviram as promessas de campanha do atual governador. Maggi prometeu mais, mais “tudo”. E também na área da educação está cumprindo de menos. Também na área da educação os compromissos de campanha, um contrato social assinado nos palanques com o eleitorado, foram ignorados.
A luta pelo reajuste salarial é outra prova de que se os mestres não correrem atrás daquelas promessas de melhores condições de trabalho feitas por Maggi candidato, elas nunca serão cumpridas por Maggi governador. Contra eles ainda existe um mito, difundido pela mídia, que é a única categoria profissional que não pode fazer reivindicação salarial. O trabalho do professor, nessa mitologia conveniente para um governo que não está nem aí para valorizar o magistério, seria uma missão quase religiosa, que por isso pode passar por todas as privações e humilhações. Dezenas de reportagens começam invariavelmente com este mote: o professor sem salário, sem condições de trabalho, que supera tudo para ensinar aos seus alunos. Ora, como qualquer profissional, o professor quer ser valorizado mesmo é pelo seu salário, pago em dia e de acordo com a sua qualificação. Ou as outras profissões dispensam a relação realização profissional/remuneração digna?
Os professores estaduais correm atrás também do apoio dos deputados às suas reivindicações. A palavra é horrível, “sensibilizar”, e a tarefa idem, uma vez que neste caso a Assembléia Legislativa não tem se mostrado “sensível” aos anseios da categoria. O interesse está mais centrado, ao que parece de parte de alguns deputados, na “guerra” pelo controle da secretaria. Aos professores não sobra nada, nem mesmo os despojos deste confronto de poder.
Os mestres não perdem a paciência. Bolaram até uma cartilha sobre o reajuste, que já está sendo discutida com a sociedade, da qual precisam buscar também o apoio para esta reivindicação salarial. O sindicato argumenta que há condições para a reposição solicitada. Se todo mundo estudar bem a lição de casa, Governo e Assembléia, não vai haver reprovação popular: os professores recebem o que merecem, uma remuneração digna, e a tão falada importância da atividade é reconhecida na prática pelo tamanho do salário; o governo reconhece publicamente que precisa melhorar em muito nesta área também e os deputados poderão andar de cabeça erguida quando passar em frente a qualquer profissional da educação.
Antero Paes de Barros é jornalista, radialista, senador licenciado e presidente do PSDB de Mato Grosso