Na sexta-feira, dia 20 de maio, produtores, empresários, madeireiros e
comerciantes uniram forças e foram para as ruas protestar contra atual
política do governo. O manifesto reuniu mais de 5 mil pessoas e contou com
apoio e a participação de agricultores de cidades vizinhas como Tabaporã,
Santa Carmem, União do Sul e Feliz Natal. O objetivo foi sensibilizar o
governo, pois isso aconteceu paralelamente na maioria dos municípios
produtores de Mato Grosso, e, principalmente esclarecer à população sobre a
crise econômica que o setor do agronegócio vem enfrentando.
É sabido que a natureza não tem colaborado muito com o setor nos últimos
meses. Será que ela não está dando o troco? Na safra 2003/2004, as perdas
por causa do excesso de chuvas chegaram a 15%, no total. Teve produtor que
se quer conseguiu colher metade de sua produção e viu a soja, carro chefe,
apodrecer nos pés sem poder tirá-las.
Nesta safra, além da chuva, que também voltou a castigar na hora da
colheita, causando uma perda de mais de 20% em alguns casos, o preço dos
agrotóxicos encareceu a safra em média 30% se comparada à safra passada. E
de quebra o dólar, moeda utilizada para a cotação da saca de soja,
despencou. Nos últimos dias não consegue ultrapassar a casa dos R$ 2,50.
Os agricultores afirmam que o governo vem adotando uma política econômica
que está castigando ainda mais o setor. Com juros lá em cima, os produtores
não conseguem liquidar suas dívidas. O governo alega que isso é necessário
para poder conter a inflação, mas isso é assunto para ser discutido em um
outro momento.
No dia do protesto o comércio – algumas empresas – e até o Poder Executivo
fecharam as portas em solidariedade. Armados com poderosas máquinas
agrícolas, colheitadeiras, plantadeiras, tratores, caminhões e caminhonetes
os manifestantes se enfileiraram e percorreram as principais ruas de Sinop.
Depois de infernizar a vida de muita gente durante algumas horas, a poderosa
carreata só foi parar no viaduto, na BR-163, que dá acesso ao centro de
Sinop.
Barulho não faltou. Os buzinaços chamaram a atenção e até, diga-se de
passagem, incomodaram, quem passava pelas ruas ou estava em seu
estabelecimento comercial ou em casa. Até os doentes ficaram sabendo no
manifesto, pois nem mesmo os hospitais foram respeitados, como o Pronto
Atendimento (PA), na avenida dos Ingás, local por onde a carreata passou.
Mas se o protesto era esclarecer a população sobre a crise que o setor do
agronegócio vem passando, como tirar dúvidas com buzinas? Será que as
pessoas ficaram sabendo da real situação dos produtores? O significado da
palavra esclarecer é: tomar claro, dar explicação, ilustrar, informar, entre
outras definições. Pelo jeito, parece que os produtores esquecerem de levar
ao pé da letra o verdadeiro significado da palavra e até seus objetivos.
Para poder esclarecer é preciso falar e não buzinar. Não foi visto em
momento algum, produtores reunidos com pessoas falando sobre a crise.
E quanto ao governo. Até que ponto ministros, políticos e o presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, foram afetados com o manifesto.
Mobilização sim fez os Sem Terra. Reuniram mais de 10 mil pessoas e a pé,
sem tratores, colheitadeiras, plantadeiras, caminhonetes ou qualquer outro
meio de transporte, percorreram quilômetros e foram parar em Brasília. Lá
onde realmente estão políticos, ministros e o presidente. Os Sem Terra
deixaram o centro político do país com a maioria de suas reivindicações
atendidas.
Assim deveriam fazer os agricultores. Ir até Brasília, convocar reuniões
com ministros, pessoas ligadas diretamente ao agronegócio, e discutir frente
a frente melhorias na política econômica. Isso, sem sombra de dúvida, iria
mexer com o governo, pois muito mais força tem o grande produtor o
empresariado que é parceiro direto do governo para a fazer a economia do
país crescer do que um pequeno agricultor que na sua ínfima vontade de
trabalhar, mas longe de conseguir grandes empréstimos, quer colaborar com o
progresso do país.
É torcer para que o movimento feito na terça-feira (31/05) em boa parte do
Brasil, alcance seus objetivos, embora que fechar a BR-163 irá afetar apenas
a economia no local.
Maria Helena Benedet Barbuio – Jornalista