A região historicamente chamada de Baixada Cuiabana reúne alguns dos piores indicadores sócio-econômicos de Mato Grosso, e, por extensão, do Brasil. Isto considerando 13 municípios: Cuiabá, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Santo Antonio de Leverger, Barão de Melgaço, Acorizal, Rosário Oeste, Barra do Bugres, Jangada, Nobres, Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia.
Exceto Cuiabá e Várzea Grande, todos os demais municípios da região são classificados como de baixa dinâmica econômica, ou, o que é pior, como em regressão econômica.
Essa classificação pode ser encontrada, por exemplo, no livro Desigualdades Regionais em Mato Grosso, publicado pela Assembléia Legislativa, sob a supervisão do economista Maurício Munhoz e do sociólogo Silvio Monteiro, e organizado pelo jornalista Onofre Ribeiro. Segundo o estudo, a região tem perdido receitas agropecuárias e rebanho bovino, tem baixo Valor Adicionado (um índice substitutivo do PIB), além de ter as menores taxas de crescimento demográfico do Estado, entre outros indicadores.
Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios da região também estão entre os piores. Novamnete excetuando-se Cuiabá e Várzea Grande – que têm IDH acima da média brasileira, mas abaixo da média estadual -, todos os demais membros da Baixada têm IDH abaixo da média nacional, sendo que alguns municípios estão abaixo da média do Rio Grande do Norte, a pior do país.
Ainda que seja líder em indicadores positivos na Baixada, Cuiabá, segundo dados do IBGE de 2000, tem mais de 150 mil pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, o que pode resultar, entre outros, do êxodo das adjacências, ou seja, dos municípios circunvizinhos. O que prova, em definitivo, que o problema regional deve ser tratado regionalmente.
Em contraste a estes dados (e muitos outros que poderiam ser citados), a região é o berço histórico de Mato Grosso, reunindo as comunidades mais antigas e tradicionais, tem patrimônio natural valiosíssimo (praticamente todo o pantanal mato-grossense), um comércio forte e o melhor mercado de logística do Estado, além de ser um centro de ensino, lazer, cultura e entretenimento.
Juntos, esses 13 municípios representam uma população de 934.542 habitantes, segundo estimativas do IBGE de 2004. Ou seja, representamos mais de 35% da população de Mato Grosso. Somados, os territórios dos nossos municípios atingem uma área de 81.600 km2, o que representa cerca de 10% do total de 903 mil km2 de MT.
Temos ainda 608.394 eleitores, correspondentes a mais de 33% Colégio Eleitoral do Estado, que nas eleições do ano passado foi de 1.836.140 eleitores.
Este é o contexto no qual lancei recentemente o desafio aos colegas prefeitos da região para buscarmos alternativas econômicas para a Baixada, e reconstruir o caminho do desenvolvimento sustentável e da prosperidade de nossas populações.
Não podemos mais ser vistos pelo Sul e pelo Norte, regiões que estão na outra ponta com grande dinamismo econômico, por causa do agronegócio, como os primos-pobres da família ou os patinhos feios da ninhada.
Em nome destas distinções preconceituosas, muitos chegam ao absurdo de nos tachar como os óbices para o desenvolvimento do Estado, ou como os parasitas da sua prosperidade, como o fazem muitos do que defendem a divisão do Estado.
Somos a mátria de Mato Grosso, que saiu do nosso ventre, e devemos ser respeitados. Não se elege governador ou senador sem os nossos votos. Não haveria pantanal em Mato Grosso se não fôssemos nós. E Cuiabá acaba sendo o grande hospital e a grande universidade do Estado, como Capital que tem recebido grande demanda do interior.
Por isso mesmo lancei junto com o desafio da necessidade da nossa rearticulação e mobilização o nome do colega Wilson Santos, prefeito de Cuiabá, como o nosso líder nesse processo. Acima das diferenças ideológicas e partidárias, reconhecemos no Wilson o político certo no lugar certo e no momento histórico adequado para liderar essa cruzada pela recuperação econômica, social e política da Baixada Cuiabana, mãe de todos os mato-grossenses.
Além e acima dos indicadores econômicos, nosso desafio é político. E nossa solução começa pela nossa mobilização articulada, fixando todos os nossos interesses comuns como pauta prioritária nossa, ao lado das questões do dia-a-dia das nossas administrações. Nesse caso, não podemos ficar olhando apenas as árvores, precisamos vislumbrar a floresta, antes que só restem galhos secos e terra arrasada.
Faustino Dias Neto é prefeito de Santo Antonio de Leverger.